08 DE ABRIL DE 2019
CLÁUDIA LAITANO
Homens?
Pense em uma turba de torcedores raivosos brigando na rua em plena Zona Sul do Rio de Janeiro (3 de abril). Pense em um deputado e um ministro trocando insultos vulgares em meio a uma reunião no Congresso Nacional (3 de abril). Pense em políticos e funcionários de uma Câmara de Vereadores transformando uma sessão legislativa em um espetáculo mambembe de luta livre (4 de abril). Pense em mulheres sendo mortas por homens "inconformados com a separação" (qualquer dia de 2019).
Esses são exemplos recentes daquilo que vem sendo chamado de "masculinidade tóxica" - expressão cunhada nos Estados Unidos, nos anos 1980, para descrever comportamentos de violência e sexismo, de diferentes naturezas, que se estendem da vida privada à arena pública.
Já muito popular em estudos acadêmicos e reportagens, o termo chegou à publicidade no início deste ano, em um comercial da Gilette que convidava os homens a repensarem seus ideais de masculinidade ("The Best Men Can Be"). O vídeo viralizou - mas não porque todos concordavam com a mensagem. Muitos viram na campanha uma tentativa de desmoralizar os "homens de verdade" e suas incompreendidas necessidades e idiossincrasias - inclusive a de colocar necessidades e idiossincrasias alheias em segundo plano.
Mas o que seria mesmo um "homem de verdade"? Se você perguntar a um japonês e a um americano, a um avô e a seu neto, a um segurança e ao dono do banco para o qual ele trabalha, talvez obtenha respostas bem diferentes. Para as mulheres, isso é bastante óbvio. Não me sinto menos mulher do que uma funkeira ou uma mãe abnegada que criou 12 filhos. Para muitos homens, porém, ainda vale uma concepção muito limitada do que o mundo masculino é ou deveria ser - o que chancela a "masculinidade tóxica" e suas exibições públicas de boçalidade. Não, você não está sendo homem, está sendo apenas estúpido.
É possível ser "homem de verdade" sem aderir incondicionalmente aos lugares-comuns do machismo? Esse é um dos pontos de partida de Homens?, série cômica que começou a ser exibida em março no canal Comedy Central e no serviço de streaming Amazon Prime.
Criado por Fábio Porchat, o programa é uma espécie de versão masculina de seriados como Sex and the City (1998-2004) e Girls (2012-2017): quatro amigos heterossexuais conversando (ao vivo e por WhatsApp) sobre o lado cômico do sexo e do amor. A interrogação no título, porém, abre a possibilidade de colocar em dúvida alguns comportamentos considerados "masculinos" e que, às vezes, não passam de uma ofensa à categoria como um todo.
Lugar de homem também é onde ele quiser.
CLÁUDIA LAITANO
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