16 DE ABRIL DE 2019
CARPINEJAR
Quente
Dizer a sua opinião é perder amigos, os falsos amigos, mas jamais perder a si mesmo. Não nasci para ser neutro. Minha mãe já me passou a sua opinião pelo leite. Logo cedo, já no seu colo, escolhia a direção do meu olhar.
Não tenho como me silenciar se realmente acredito em algo. Acredito em Deus e falo que acredito em Deus, por mais que pareça careta e anacrônico para os meus colegas.
A vida não tem graça em cima do muro. É falando que erramos e daí podemos nos corrigir. É falando que pisamos sem querer em preconceitos, pedimos desculpas e nos livramos das muletas ideológicas.
Quem não fala nunca muda, nunca se aperfeiçoa, nunca evolui. É de uma perfeição cadavérica.
O poeta Dante, em sua Divina Comédia, interpretou a mornidão como o pior comportamento, mais nefasto do que a maldade. Os mornos se arrastam num pavilhão da inexistência, desperdiçaram a chance de viver. Não viveram nem para alcançar o paraíso, muito menos para merecer o inferno. Desapareceram no sopro do destino, porque não usaram o livre-arbítrio. Ninguém é bom apenas não fazendo o mal. Ninguém é mau apenas não fazendo o bem.
Costumo morder a minha língua - a língua cicatriza rápido -, melhor do que morder a caneta e passar por uma biografia em branco.
Sinto pena de quem não tem time de futebol, não tem música predileta, não tem assunto, não tem vontade de soltar palavrão, não se irrita, não comete tolices e gafes. É sempre certo porque jamais opta por um lado. Espera os outros falharem para se sentir superior, em vez de se ver confiante pelos seus valores.
Tomar partido é necessário, mesmo que seja para voltar atrás um minuto depois.
A neutralidade é uma doença letal: conhecida pelo nome científico de covardia e apelidada de oportunismo. Não é nenhuma vitória aproximar-se de quem está mais forte para tirar proveito.
Na minha infância, eu brincava de esconder objetos com os meus irmãos. Apenas localizávamos o esconderijo a partir do quente-frio. Era frio frio, quente quente. Seguia a voz do mano para guiar o caminho das mãos. Não havia meio-termo na brincadeira.
Assim aprendi a encontrar as minhas verdades no jardim da família.
CARPINEJAR
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