24 DE ABRIL DE 2019
POLÍTICA
Aumenta a tensão entre família Bolsonaro e o vice-presidente
CHEFE DO EXECUTIVO recusa-se a enquadrar filho, que atacou Mourão
As novas e mais incisivas críticas de Carlos Bolsonaro ao vice-presidente, Hamilton Mourão, reabriram a crise que o núcleo militar do governo via como ultrapassada na noite de segunda-feira. Ontem, o filho do presidente Jair Bolsonaro fez duas postagens em redes sociais com duros ataques ao vice.
Primeiro, pela participação de Mourão em evento nos Estados Unidos no qual o convite citava que os cem primeiros dias do governo brasileiro foram "marcados por paralisia política, em grande parte devido às crises sucessivas geradas pelo círculo próximo ao presidente, se não por ele próprio". Na mesma postagem, Carlos publicou que "esse jogo está muito claro". Horas depois, o filho de Bolsonaro voltou a alfinetar o vice na internet, mas por sua posição contra intervenção na Venezuela para pôr fim ao regime atual.
Generais, que atuam como bombeiros no episódio, apontam que a crise agravou-se após Bolsonaro recusar-se a incluir o filho, vereador pelo PSC fluminense, na leve reprimenda que fez ao escritor Olavo de Carvalho, guru da ala que se diz ideológica do bolsonarismo, pelo vídeo em que Mourão e militares são criticados.
A peça foi postada no YouTube de Bolsonaro no fim de semana e apagada no domingo. Carlos a compartilhou. Militares viram nos fatos um recado à movimentação de Mourão, que a família de Bolsonaro vê como interessado em derrubar o titular.
Segundo integrantes do governo, o presidente manteve inalterado o acesso de Carlos às suas redes sociais. Bolsonaro costuma ter primazia sobre sua conta no Twitter, mas o Facebook e o YouTube são canais em que o filho reina quase sozinho. Ontem, Bolsonaro afirmou por meio do porta-voz do governo que quer colocar "ponto final" na "pretensa discussão":
- O presidente gostaria de deixar claro quanto a seus filhos, em particular o Carlos, que ele sempre estará a seu lado - afirmou Otávio Rêgo Barros.
Ainda fez afago a Mourão dizendo que ele é o subcomandante do governo e que o vice tem dele "consideração e apreço".
- (Bolsonaro) evidencia que declarações individuais publicadas em mais diversas mídias são de exclusiva responsabilidade de quem as emite - declarou o porta-voz.
Muitos consideram que o presidente tem dívidas com o filho. Uma da campanha eleitoral do Rio em 2000. Ali, lançou Carlos, aos 17 anos, a vereador para barrar a ida de votos ao sobrenome Bolsonaro a sua ex-mulher, que buscava reeleição na Câmara. Além disso, o filho coordenou suas redes sociais em 2018.
Entenda o caso
Veja a relação entre Olavo, Bolsonaro e os militares
RELAÇÃO FAMILIAR
- Bolsonaro conheceu Olavo de Carvalho a partir de seus filhos, admiradores do escritor. Em março, durante viagem presidencial aos EUA, Bolsonaro, Eduardo e Olavo estiveram em jantar na residência oficial do embaixador do Brasil em Washington.
INDICAÇÕES PARA O GOVERNO
- Guru de Bolsonaro, Olavo foi responsável pela indicação de dois ministros: Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Vélez Rodríguez, demitido do MEC no início do mês e substituído pelo também olavista Abraham Weintraub.
CONFLITOS COM MILITARES
- Olavo tem feito críticas públicas à atuação dos militares no governo, o que inclui o vice, Hamilton Mourão, e já pediu a seus ex-alunos que deixem a gestão. A disputa entre olavistas e membros das Forças Armadas chegou a travar o MEC.
VÍDEO APAGADO
- No sábado, um vídeo em que Olavo criticava militares foi postado no canal oficial de Bolsonaro no YouTube, mas a publicação foi apagada domingo. Na segunda, Mourão disse que Olavo deveria se limitar à "função de astrólogo", e Bolsonaro afirmou que as críticas do escritor não contribuem com o governo.
IGOR GIELOW
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