16 DE ABRIL DE 2019
+ ECONOMIA
COMO SE CONSERTA QUEBRA NA CONFIANÇA?
Com o mercado fechado antes que houvesse qualquer sinal de resultado da reunião entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, a segunda-feira foi um dia cercado de cautela. A bolsa, que havia iniciado o dia mais animada, conseguiu, por um triz, fechar no positivo: 0,22%. As ações da Petrobras fecharam com leves oscilações, tanto para baixo (ordinárias recuaram 0,07%) quanto para cima (preferenciais avançaram 0,39%). Pequenas variações como essas representam precaução de investidores e especuladores diante do imponderável.
O problema é que não se sabe o que esperar do governo depois do telefonaço de Bolsonaro em que determinou ao presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, frear o reajuste de 5,7% no óleo diesel nas refinarias.
Analista de óleo e gás da consultoria Tendências, Walter de Vitto vê "situação bem complicada", especialmente depois que a previsibilidade do governo sobre o assunto escasseou:
- É uma questão de definir quem ganha e quem perde. E é muito difícil fazer isso. Represar um reajuste dessa forma é transferir dinheiro do contribuinte para o setor que usa diesel, seja transporte ou agricultura. Como o orçamento é engessado, significa transferir essa renda.
De Vitto lembra que a variação do dólar e da cotação internacional do petróleo - nenhuma controlável - forma o preço dos combustíveis:
- Caso prevaleça a situação em que se mantenham aumentos de barril e câmbio, o governo vai jogar o ônus na Petrobras de forma contínua? É um jogo sem fim.
A saída, pondera o especialista, é definir a regra e mantê-la. O problema a resolver - ou a "consertar", como disse Guedes - é que havia regra, rompida pelo presidente da República. Além de elevar a insegurança jurídica, quebrou a confiança de investidores. Não só os do mercado financeiro, mas os que estavam dispostos a disputar, por exemplo, as refinarias que a Petrobras pretende oferecer à iniciativa privada, entre as quais deve estar a Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas. A representantes de empresas foi dito que não havia mais controle de preços, como no governo Dilma Rousseff. E agora?
De Vitto pondera que os reajustes podem ter qualquer periodicidade. desde que eventuais perdas ou danos sejam compensados por inteiro. Até a ideia de impostos cobrados de forma variável (sobem quando o preço do petróleo baixa e vice-versa) pode ser uma solução.
- O ideal na política de preços é que reflita o que está ocorrendo no mercado, não gerando ganhos e perdas para setores específicos.
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SE O INCÊNDIO NA CATEDRAL DE NOTRE-DAME, EM PARIS, REPRESENTA UMA PERDA SIMBÓLICA DE CIVILIDADE A IGREJA COMEÇOU A SER CONSTRUÍDA EM 1163, EM PLENA IDADE MÉDIA , PARA A FRANÇA SIGNIFICA PERDAS FINANCEIRAS. O PAÍS TEM 7,1% DO PIB DEPENDENTE DO TURISMO, CONFORME DADOS DA FORBES DE 2018. E HAVIA SIDO UM DOS MENOS ATINGIDOS POR REDUÇÕES RECENTES DAS PROJEÇÕES PARA O PIB FEITAS PELA OCDE NO INÍCIO DE MARÇO.
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EMPACADO NA ESTRADA
O sinal negativo era esperado, mas não com tanta profundidade. A queda de 0,73% no Indicador de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em fevereiro, ante janeiro, foi muito superior à média projetada, que era quase a metade. Assim como o preço do diesel, que está subindo para voltar a valores muito parecidos com os anteriores à greve dos caminhoneiros, o indicador tem uma pouco auspiciosa coincidência com a data: tem a menor pontuação desde maio de 2018 - lembrando que termômetros setoriais só registraram tombos em junho. Embora a essa altura o apelido "prévia do PIB" tenha sido relativizado, o dado vai pesar nas expectativas dos resultados oficiais do primeiro trimestre, que serão anunciados pelo IBGE em 30 de maio. Já surgiram projeções de queda na geração de riqueza no primeiro trimestre, como a do banco Fibra, que estima recuo de 0,1%.
O banco também revisou pela segunda vez a estimativa de crescimento para 2019, agora de 1,7% para 1% - em linha com os dois últimos anos - e também para o próximo ano, de 3% para 2,6%. A mudança decorre dos resultados já anunciados e dos ajustes em índices de confiança. E os primeiros sinais de março não são exatamente revigorantes. O Indicador Antecedente Composto da Economia Brasileira (Iace), parceria entre Instituto Brasileiro de Economia da FGV e The Conference Board (TCB), recuou 1,3% em março. Dos oito componentes, seis tiveram queda, com mais intensidade no índice de Expectativa do Consumidor (-9,7%) e do setor de serviços (-4,2%).
- A queda observada em todos os componentes de expectativas do Iace sinaliza que o ritmo de recuperação não deve se acelerar nos próximos meses - observa o pesquisador do FGV/Ibre Paulo Picchetti.
MARTA SFREDO
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