quarta-feira, 17 de abril de 2019



17 DE ABRIL DE 2019
+ ECONOMIA

BLINDAR PETROBRAS É INÍCIO, MAS TEM CHÃO

Depois do estrago provocado pelo telefonema de Jair Bolsonaro que suspendeu o reajuste de 5,7% no óleo diesel, o governo parece ter entendido o tamanho da encrenca. Com o anúncio de medidas estruturantes para o setor de transportes ontem, começa a fazer o que deveria ter feito desde o início: separado os problemas dos caminhoneiros, que vão muito além dos reajustes do combustível, da questão da política de preços da Petrobras. Ou, como disse o ministro da Economia, Paulo Guedes, a consertar o problema que o próprio Planalto criou. No dia anterior, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, havia dado a senha:

- Uma coisa é o governo, outra é a Petrobras - afirmou.

O anúncio mais impactante foi a destinação de R$ 2 bilhões para conclusão de obras paradas nas estradas, entre as quais a BR-116 no Rio Grande do Sul. É uma ótima notícia, desde que tenha ritmo e não interfira na busca do equilíbrio fiscal. No entanto, o primeiro órgão envolvido na tentativa de tranquilização da categoria anunciada nesta manhã foi o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O sinal foi suficiente: bastou começar a entrevista dos ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e da Infraestrutura, Tarcisio Gomes de Freitas, para as ações ordinárias da Petrobras, que andavam de lado, passaram a subir mais de 2%, e a bolsa, que estava no mesmo ritmo cauteloso, avançou com mais intensidade. Os papéis da estatal encerraram com alta de 3,57%, e a bolsa avançou 1,34%. É fácil assim: basta fazer o que a lógica econômica recomenda. O ministro da Infraestrutura mostrou porque é bem avaliado na Esplanada:

- Nosso maior desafio é dar mais trabalho ao (caminhoneiro) autônomo.

Entre analistas respeitáveis, o episódio foi interpretado como mais um sinal da necessidade de privatização da Petrobras. Ao que tudo indica, o governo Bolsonaro não tem intenção de avançar nessa direção. Especialista em óleo e gás da consultoria Tendências, Walter de Vitto não gosta da relação entre a dificuldade de administrar a política de preços e a pressão por vender a estatal:

- São assuntos diferentes. Há interligação, em alguma medida, até por interferir na avaliação da empresa. Mas não gosto de misturar esses assuntos. Uma coisa é a política de precificação, outra a de privatização.

MARTA SFREDO

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