sexta-feira, 12 de abril de 2019


12 DE ABRIL DE 2019
OPINIÃO DA RBS

CAIS, UMA SÍNTESE DOS NÓS DO ESTADO


No ritmo habitual, um impasse significaria postergar por pelo menos mais uma década a chance de a capital dos gaúchos se reconciliar com o seu porto

Merecem reflexão profunda as razões dos percalços que fizeram o Cais Mauá, uma área virtualmente abandonada e apartada da população, ter se transformado em símbolo do emaranhado financeiro, legal e emocional das dificuldades de se empreender no Rio Grande do Sul. Sonho de no mínimo três décadas dos gaúchos, a revitalização da área foi finalmente alvo de um contrato de concessão à iniciativa privada em 2010, depois de sucessivas tentativas fracassadas de levar a intenção adiante. A questão é que, até hoje, as obras nunca saíram do lugar. E, diante do recrudescimento das dificuldades, não é improvável que seja preciso esperar ainda por um longo tempo.

Num Estado conhecido pela quantidade de entraves a quem empreende, o projeto superou todos os obstáculos legais e burocráticos e foi autorizado, inclusive, a dar início às obras. Há um ano, porém, uma operação da Polícia Federal envolveu antigos gestores em suspeitas de irregularidades e o cronograma foi alterado de vez.

Pela demora na concessão da área, na finalização dos contratos e na busca de investidores, era de se supor que os permissionários iniciais tivessem sido escolhidos a dedo. Infelizmente, não foi o que se viu. Agora, outro fundo, especializado em situações de dificuldades crônicas, tenta levar adiante os trabalhos de revitalização do cais. Mas são tamanhas as dificuldades - noves fora a oposição dos que querem conservar tudo como está, inclusive áreas degradadas -, que só uma obsessão por levar os negócios à frente consegue impulsionar a concretização de uma iniciativa que devolve à cidade a beleza da convivência social com o Guaíba.

O pior dos cenários, não totalmente afastado, é a volta à estaca zero do projeto. No ritmo habitual, um impasse significaria postergar por pelo menos mais uma década a chance de a capital dos gaúchos se reconciliar com o seu porto. O Rio Grande do Sul e Porto Alegre têm em seu comando dois gestores francamente favoráveis à atração de investimentos e em dar um fim a novelas que se arrastam há décadas. Mas essa conjunção favorável não desfez ainda a rede invisível que trabalha em silêncio e com força inercial para deixar tudo como está ou dificultar, sabe-se lá por que razões, o desenvolvimento do Estado e de Porto Alegre.

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