terça-feira, 30 de abril de 2019


30 DE ABRIL DE 2019
EDITORIAL

FALTOU A AUTOCRÍTICA


Na entrevista, o ex-presidente fornece combustível para os movimentos anti-Lula que estavam esmaecidos e, agora, reencontram seu velho alvo em plena forma mental e verbal
Na entrevista concedida aos jornais Folha de S. Paulo e El País, o ex- presidente da República se mostra o mesmo Luiz Inácio Lula da Silva de sempre, bem falante e apaixonado por política. Também fica claro que, pelo menos em manifestações públicas, a prisão não lhe ensinou novas lições. 

Lula segue em seu papel de vítima e ignora a dimensão da roubalheira que tomou conta do país sob seu governo, do qual a Petrobras foi o butim mais vistoso. O ex-presidente perdeu oportunidade de fazer no mínimo uma autocrítica em relação a seus próprios malfeitos e aos de seu partido, como defendem há algum tempo inclusive alguns de seus seguidores ou correligionários.

Até mesmo no aspecto referente à união das oposições, porém, fica evidente que o ex-presidente segue na batida de que tudo é possível, contanto que o PT não abra mão de ditar as regras. O máximo que se permite admitir é um eventual deslize ético por usar um sítio no qual empreiteiras faziam mimos a ele e à esposa, que viria a falecer posteriormente. É pouco para a dimensão de seus erros. O ex- presidente já foi condenado pelo caso em primeira instância, por corrupção e lavagem de dinheiro. Além disso, foi sentenciado pelas mesmas razões no caso do triplex de Guarujá, pelo qual se encontra preso desde abril de 2018. A decisão acaba de ser mantida pela 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Ao longo da entrevista, o ex-mandatário brasileiro se mostra obcecado com seu papel na História, o que tem alguma coerência para quem, de uma trajetória política marcada pela superação, chegou a registrar índices elevados de popularidade, que não soube preservar. Depois de sua condenação ter sido reiterada por um tribunal superior, é cada vez mais evidente que nenhum julgador perde o sono por ter mandado Lula para a cadeia, como ele chegou a insinuar. Pelo contrário, as evidências e penas se acumulam e, mesmo que venha a ter a prisão relaxada, o ex-presidente seguirá respondendo a processos que poderão devolvê-lo à prisão.

Ao fim e ao cabo, as declarações deixam evidente o alto espírito de Lula depois de tantas tragédias, como a morte de um irmão e um neto durante o período no qual se encontra na prisão. Ao mesmo tempo, na entrevista, o ex-presidente fornece combustível para todos os movimentos anti-Lula que estavam um tanto esmaecidos e, agora, reencontram seu velho alvo em plena forma mental e verbal.

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