sexta-feira, 26 de abril de 2019


Jaime Cimenti 

Amor e coragem na Amsterdã ocupada

A garota do casaco azul (Rocco, 336 páginas, R$ 49,90, tradução de Rachel Agavino), da premiada jornalista e escritora Monica Hesse, do The Washington Post, narra em forma de suspense juvenil, uma pungente história sobre amor, coragem, sofrimento e resistência que tem como pano de fundo a cidade de Amsterdã no inverno de 1943, na Segunda Guerra Mundial, ocupada pelos nazistas. Monica Hesse, repórter que já cobriu casamentos reais, campanhas políticas e cerimônias do Oscar, recebeu o Prêmio Edgar Award de Melhor Suspense Juvenil por seu primeiro romance, American Fire, e por A garota do casaco azul, agora publicado no Brasil. Dois anos e meio depois de perder o namorado durante a invasão alemã à Holanda, Hanneke Bakker não é mais a mesma garota.

Trabalhando com contrabando para sustentar a família e resistir a seu modo a ocupação nazista, sem o conhecimento de seus pais. Sua aparência loura e seus olhos azuis facilitam o trabalho, mas não diminui sua raiva pelos nazistas e a tristeza pela perda do namorado. Ela recebe inúmeros pedidos estranhos de clientes, busca os produtos no mercado negro, mas nenhum deles tão amedrontador quanto o de encontrar uma garota judia que sumira de seu esconderijo sem explicação. 

Com poucas pistas por onde começar, além do fato de a garota usar um casaco azul, Hanneke acaba sendo arrastada para o centro da resistência holandesa. Para encontrar Mirjam Roodveldt, ela precisará colocar sua vida em risco, seus ideais à frente e deparar com a brutal realidade do nazismo.

Com base em meticulosa pesquisa histórica e com um enredo complexo, o romance traz a história ficcional de uma garota que inicialmente não queria se comprometer, mas que foi tomada pelo acontecimento misterioso e decide, motiva pela curiosidade, ir atrás. A menina judia que se escondia no quarto desapareceu sem deixar vestígios e motivou a pesquisa inicial de Hanneke, que acaba encontrando Ollie, o irmão mais velho de seu namorado assassinado. A mãe da menina desaparecida, a velha senhora Janssen, implorou a Hanneke implorou a Hanneke para que encontrasse a filha.   

Seja seu melhor amigo 

Em nossa cultura Ocidental muitas vezes acabamos por tratar melhor os outros do que a nós mesmos.

Muitas vezes sofremos com isso e sentimentos de autopiedade, raiva, vergonha e autojulgamentos duros e violentos acontecem. Sentimo-nos inadequados, perdedores, errados e não conseguimos, especialmente em momentos difíceis, ter a consciência de que não somos obrigados a ser maiores ou melhores do que os outros e que na vida não necessitamos atingir metas e padrões impossíveis. Como dizia o Tom Jobim, na vida temos as delicatessen e as groceries.

É preciso lidar com a dor e o prazer, a vida e a morte, o doce e o amargo. É preciso surfar no vale de lágrimas e chegar nas ilhas ou nos continentes felizes para seguir adiante. Amar os outros é essencial, fazer bem aos outros é ótima receita de felicidade, mas antes é preciso ser amigo de si mesmo, amar-se e aí os bons relacionamentos e energias fluem.

Manual de mindfulness e autocompaixão - Um guia para construir forças internas e prosperar na arte de ser seu melhor amigo (Artmed Editora, 190 páginas, R$ 70,00), da professora Ph.D. Kristin Neff e do psicoterapeuta e palestrante Christopher Germer, Ph.D, com tradução de Sandra Maria Mallmann da Rosa e revisão técnica de Simone Teresinha Aloise Campani, aborda com profundidade, objetividade o tema da autocompaixão. Os autores trabalham há muitos anos com a prática da terapia cognitivo-comportamental baseada em mindfulness e aceitação e publicaram várias obras a respeito, além de realizar palestras e cursos para dezenas de milhares de pessoas, através do programa de oito semanas Mindful Self-Compassion (MSC).

Os autores convidam os leitores a terem autocompaixão para lidarem com o estresse nas lutas internas dos pensamentos e nas dificuldades nos relacionamentos familiares, pessoais e profissionais. Ensinam os autores que para sermos autocompassivos é preciso estar consciente das experiências momento a momento de forma clara e equilibrada, usando todos os cinco sentidos. É preciso não exagerar em relação ao próprio sofrimento e evitar rompantes de narcisismo, raiva como defesa do ego e constantes comparações com os outros.

Não somos perfeitos e precisamos nos dar conta de que a autoestima, prima próxima da autocompaixão, funciona mais em horas de sucesso. Em momentos complicados da vida, a autocompaixão e a autobondade são importantes para ter senso de autovalorização e evitar que as emoções difíceis dominem. Não devemos ter medo de que a autocompaixão nos torne fracos e vulneráveis. Ela deve ser vista como uma força interna para nos dar coragem em momentos de dificuldades.

A autocrítica severa demais mina a autoconfiança e nos leva ao medo e ao fracasso. Os vinte e quatro capítulos da obra tratam de bondade, perdão, amor, resistência, emoções difíceis e vergonha, entre outros tópicos, relacionando-os com a autocompaixão. Depois de cada capítulo há exercícios, reflexões e dicas para a prática informal. -

Jornal do Comércio (https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/colunas/livros/2019/04/680892-amor-e-coragem-na-amsterda-ocupada.html)

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