20 DE ABRIL DE 2019
PAULO GERMANO
A BELEZA DE FALAR MAL DOS OUTROS
É bom falar mal dos outros. Vamos ser francos, sem rodeios: uma das melhores coisas da vida é esculhambar alguém mas só pelas costas, que na frente é grosseria. A fofoca aproxima as pessoas, cria uma aliança entre elas, estabelece cumplicidade, emula o Bem contra o Mal.
O psicanalista Mário Corso diz que é um elogio às avessas: ao falar mal de outra pessoa, os fofoqueiros se presumem superiores - moralmente, intelectualmente ou esteticamente, não importa, o fofoqueiro é sempre melhor. Não há quem não goste de se sentir melhor, então não há quem não goste de fofocar.
Uma pesquisa de 2012, das universidades do Texas e de Oklahoma, mostrou que falar mal dos outros é a melhor forma de fazer amigos. Quer conquistar alguém? Pense primeiro em outro alguém que aquela pessoa deve odiar. Então basta falar mal desse outro alguém e, em minutos, vocês estarão sorrindo e sentindo aquela vibrante identificação que só uma fofocaiada é capaz de oferecer.
- Não é que a gente goste de detestar as pessoas - ponderou a psicóloga Jennifer Bosson, uma das autoras da pesquisa. - A gente gosta é de conhecer pessoas que detestam as mesmas pessoas.
Enfim, é bom falar mal dos outros. O problema é que é errado. "Não faças a ninguém o que não queres que te façam", diz uma passagem do Antigo Testamento, uma das grandes referências éticas do Ocidente. De fato, quem gostaria de ser malfalado? Aliás, será que todo esse veneno, esse cinismo, essa maldade fofoqueira poderia, de alguma forma, voltar-se contra nós?
O meu tio Cleo diz que sim.
O tio Cleo é a única pessoa que conheço que jamais, sob hipótese alguma, fala mal de outra pessoa. É incrível: estamos todos difamando algum desgraçado, todos animados por dividir o mesmo rancor, aí o tio Cleo solta aquele sorriso doce, não repreende ninguém, apenas se levanta discretamente, sempre sorrindo e sempre tranquilo, então se afasta devagarinho e nos deixa lá, bufando feito animais involuídos que somos.
Como pode? É que ele segue os ensinamentos do seicho-no-ie, uma filosofia japonesa que prega o seguinte: o que você planta, você colhe. Quer dizer: se por meio de pensamentos, sentimentos, atos e palavras você plantar o mal, prepare-se porque o Mal virá. Se plantar o bem, parabéns porque o Bem virá. Portanto, falar mal de alguém, segundo o meu tio Cleo, envolve uma série de vibrações negativas, o que atrairia assim situações negativas.
Não sei se concordo, não sei se acredito nesse equilíbrio cósmico. Mas é fato que falar mal de alguém expressa o quanto podemos estar mal. Por exemplo:
- Como é burro esse nosso chefe! É um burro, um idiota, um incompetente!
Bem, se ele é burro mas é o chefe, e você é genial mas é chefiado por ele, quem está na pior? O fofoqueiro, quando fofoca, revela muito mais sobre si próprio do que sobre seu alvo. Todo homem que chama de abobado o namorado de uma linda mulher queria ser esse abobado. E imagino que toda mulher que chama outra de vadia talvez sonhe com sua liberdade.
É feio falar mal dos outros. Mas, vamos combinar: poucas coisas são tão maravilhosas.
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