Prédios mais altos do país cobrem o sol em Balneário Camboriú
(SC)
FELIPE BACHTOLD - DE SÃO PAULO
27/12/2015 02h00
Em uma faixa litorânea de cinco quilômetros entre uma
movimentada rodovia e áreas de preservação, construtoras erguem uma fileira de
arranha-céus. No térreo, a disputa é por um lugar ao sol: os edifícios criaram
zonas de sombra na areia da praia.
Imune à crise, Balneário Camboriú, praia no litoral norte de
Santa Catarina, deve dominar em breve a lista de detentores dos maiores prédios
da América do Sul. Diferentemente de outras partes do mundo, os edifícios mais
altos do país não serão comerciais, pois servirão de residência para veranistas.
Três empreiteiras locais disputam o título de responsável
pelo maior arranha-céu. Hoje, a marca está com o Millenium Palace, de 45
andares. Com a ajuda de uma antena, ele chega aos 177 m e ultrapassa o edifício
paulistano Mirante do Vale (170 m ).
Dois empreendimentos em construção vão passar dos 240 m: o
Yachthouse (74 andares) e o Infinity Coast (66). As construtoras analisam a
viabilidade de projetos com mais de 80 andares e alegam que as Megaconstruções
são feitas por necessidade de mercado. A regra é evitar apartamentos sem vista
para o mar. Com a escassez de terrenos, a saída seria construir, no máximo,
duas unidades por pavimento.
"Para viabilizar a obra, [os prédios] precisam de
estrutura compatível com os preços dos terrenos, que são caros. É uma das áreas
mais valorizadas do país", diz Altevir Baron, diretor da construtora FG
Empreendimentos, que tem a atriz americana Sharon Stone como garota-propaganda.
Com 128 mil habitantes, Balneário Camboriú atrai aposentados
e endinheirados. Segundo as construtoras, um dos públicos-alvo são milionários
do agronegócio do Centro-Oeste e do Sul.
A região também chama a atenção de celebridades, como o
cantor Luan Santana e o jogador Neymar, que compraram imóveis por lá. Os
empreendimentos seguem a linha "condomínio-clube" e têm unidades que
custam por volta de R$ 3 milhões.
ZONA DE SOMBRA
Os empresários dizem buscar tecnologia fora do país, já que
o Brasil não tem expertise em edificações desse porte. São feitos testes em túneis
de vento na Inglaterra, e os elevadores importados podem funcionar em alturas
superiores a 150 m .
O estilo das construções, que varia de colunas gregas a
dezenas de andares envidraçados, gera comparações com Dubai, nos Emirados Árabes,
que hoje tem o maior edifício do mundo, com 828 m .
Mas também desperta críticas. A mais visível delas é a zona
de sombra que as construções projetam na praia a partir do meio da tarde. Há também
os paredões dos prédios, que transformam ruas em corredores de ventania. "Ninguém
gosta de ficar em uma rua sem luz do dia. Querem fazer [de Camboriú] a Mônaco
brasileira, mas veja bem: isso não é um elogio", diz o professor de
arquitetura Carlos Barbosa, da Universidade do Vale do Itajaí.
Barbosa diz que as torres não se destacam na paisagem, já que
são construídas umas próximas às outras e em ruas estreitas. Procurada, a
prefeitura não confirma as alturas projetadas dos arranha-céus em construção e
ressalta que vários ainda estão sob análise. Afirma, porém, que vem tomando
medidas para evitar o adensamento urbano, outro questionamento frequente à ambição
das construtoras.
O município tem cobrado das incorporadoras a criação de
garagens públicas nos prédios. A construção de edifícios mais altos também
exige taxas que podem passar de R$ 50 mil por apartamento. "É preciso
equilibrar estrutura urbana, qualidade de vida e atratividade para quem vier
investir", diz Alcino Pasqualotto, diretor-geral da construtora
Pasqualotto.
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