sexta-feira, 11 de dezembro de 2015


Jaime Cimenti

Outras faces de Gumercindo Saraiva
  
Gumercindo (BesouroBox, 128 páginas), novela do escritor, roteirista, ensaísta e cineasta gaúcho Tabajara Ruas, acima de tudo, utilizando adequadamente recursos ficcionais, revisita o mito Gumercindo Saraiva. Com períodos e frases curtas e ágeis, a narrativa eletrizante foi elaborada a partir do ensaio/reportagem A cabeça de Gumercindo Saraiva, obra que Tabajara escreveu com Elmar Bones e que foi a mais vendida na Feira do Livro de Porto Alegre de 1997.

Tabajara tem oito romances publicados no Brasil, que foram traduzidos em 10 países. Ele já dirigiu quatro longas-metragens, assinou 12 roteiros de longas e adaptou O tempo e o vento para filme e minissérie de TV. Tabajara recebeu diversas condecorações literárias, inclusive o Prêmio Erico Verissimo e recebeu a Medalha do Mérito Farroupilha e o título de Cidadão de Porto Alegre.

A história de Gumercindo acontece no fim da Revolução Federalista de 1893, no Rio Grande do Sul, quando o general rebelde Gumercindo Saraiva é morto numa tocaia e sepultado num cemitério de beira de estrada. Os legalistas descobrem o túmulo, desenterram o cadáver e cortam sua cabeça para que seja levada pelo major Ramiro de Oliveira ao governador Júlio de Castilhos, em Porto Alegre, como troféu de guerra.

De modo ficcional, a novela Gumercindo narra a saga do capitão Francisco Saraiva, filho de Gumercindo, e um piquete de cinco cavaleiros na tentativa de resgatar a cabeça do caudilho, antes que o major Ramiro chegue ao seu destino. Os tensos momentos de aproximação e afastamento entre perseguidor e perseguido, os confrontos e dificuldades, os duelos de vontades de ambos lados até o desfecho dessa exasperante caçada são minuciosamente narrados. Esta novela é a base do roteiro para o filme a ser produzido por Ligia Walper e dirigido por Tabajara Ruas em 2016.

A narrativa está carregada de ação brutal, tensão ininterrupta e surpreendente disputa moral e ética entre os adversários. As lições aprendidas na jornada épica afloram, e perseguidos e perseguidores se enfrentam de modo memorável, no qual os dois lados, afinal, desejam a mesma coisa: uma saída honrosa e digna.

Antes da novela há um belo texto de apresentação, de autoria do romancista Luiz Antonio de Assis Brasil, que enfoca aspectos de forma e conteúdo da importante obra ficcional de Tabajara Ruas, que, como escreveu, "notabiliza-se por, entre outras questões, vasculhar nosso passado sulino, transformando-o em matéria de ficção".

Nossa história é curta, mas deve ser contada e ficcionalizada, como a de qualquer povo, para que os leitores se encontrem e reconheçam sua identidade rio-grandense.

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