11 de dezembro de 2015 | N° 18382
PIANGERS
Noves fora
Estão querendo colocar um nove a mais nos números de telefones. Uma lástima, que vejo poucos jornalistas sérios debatendo nos jornais. É uma afronta. Todo brasileiro deveria estar indignado. Esqueçam as manifestações pró-impeachment. Esqueçam as passeatas pró-governo. Temos que tomar as ruas em protesto a esta mudança que parece sutil, como parecem sutis todas as sorrateiras modificações cotidianas que tornam nossa vida um pequeno inferno.
Se colocam um número novo nos números de celulares, ficaremos com aquela cara de bocó sempre que nos falarem ao telefone. “Nove nove nove nove nove nove nove nove nove.” Uma quebra de métrica brutal no antes sonoro “Nove nove nove nove (tracinho) nove nove nove nove”. Eram quatro noves pra lá, quatro noves pra cá. Como uma valsa. Como uma gangorra encantada, para sempre equilibrada por um perfeito hífen.
Agora não. Ouviremos um número de celular e diremos “O quê?! Pode repetir? Parece que tem um número a mais”. O equilíbrio está quebrado. Serão cinco números pra um lado e quatro pro outro. Qual será a maneira correta de falar os números? De três em três números? “Nove nove nove, nove nove nove, nove nove nove”. Muito longo! São, agora, três longas frases de números. Não me parece uma solução. Jamais irei perguntar um número de celular novamente.
São essas pequenas mudanças que mostram que estamos ficando velhos. Que horror. Chegará uma nova geração que falará com desenvoltura os nove números de um telefone. E ficaremos, da noite pro dia, ultrapassados. Como a geração que escrevia farmácia com ph. Ríamos dessa geração! Ou a geração que usava trema. Eram motivo de chacota na minha quarta série. Agora, é de mim que estão rindo esses jovens habituados com nove números nos telefones. Sou eu o velho que não entenderá. “Pode repetir? Nove nove… nove nove...”. Já estou me vendo, de óculos e chapéu, tentando anotar um telefone. Isso é uma afronta. E a imprensa preocupada com bobagens.
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