quinta-feira, 24 de dezembro de 2015



24/12/2015 e 25/12/2015 | N° 18395 
PIANGERS

Presente o ano todo


Começou quando abandonamos a televisão aberta. Nada de novelas, nem noticiosos reportando a morte de dezenas de pessoas ao redor do mundo. Em seguida, por economia, cortamos a TV a cabo. Nada de Discovery Kids. A Aurora cresceu assistindo apenas Netflix, um desenho da Galinha Pintadinha atrás do outro, e de Dora em Dora e Luluzinha em Luluzinha ela cresceu.

Aos três anos, raramente assistiu a uma propaganda. No Netflix não existe publicidade. Dessa forma, a Aurora nunca me pediu um presente de aniversário ou de Natal. Ela não sabe qual o brinquedo do momento. Ela nunca ouviu falar de Monster High. Ela desconhece a nova boneca que fala.

Agora vem a parte mais impressionante. Quando estamos passeando pelo shopping, a Aurora eventualmente entra em lojas de brinquedos. Ela olha com fascinação para as gigantescas caixas de Lego, ou as bonecas da Frozen. Ela abraça o Olaf, brinca com as motoquinhas de plástico. Depois de um tempo, ela devolve os brinquedos pra prateleira. E diz: “Vamos embora, papai?”.

Ela acha que a loja de brinquedos é uma espécie de biblioteca, em que você desfruta dos brinquedos e depois os devolve. Ela não sabe que podemos levar os brinquedos pra casa.

Minha primeira filha, sabe. Ela é pré-Netflix. Desde pequena assistindo a Backyardigans, me empilhava de pedidos extravagantes todo Natal. Boneca que fala, lava-louça de verdade, Barbie sereia. Um dia, teve um insight: “Pai, tu já percebeu que os brinquedos são muito mais legais na loja do que na casa da gente?”.

Os melhores brinquedos são os mais simples. Elas passam horas desenhando, dias construindo cabaninhas com lençóis. Com presentes caros, brincam uns três minutos.

Não há um dia em que eu não me convença de que o melhor presente de todos, no fundo, é estar presente.

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