quinta-feira, 31 de dezembro de 2015



31/12/2015 e 01/01/2016 | N° 18401 
L. F. VERISSIMO

Recapitulando


Uma crônica escrita para ser lida no dia 31 de dezembro ou é o que se espera de uma crônica escrita para ser lida no dia 31 de dezembro – um apanhado final do que foi o ano que termina, uma retrospectiva dos seus melhores e piores momentos etc – ou um monumento à alienação. Cheguei a pensar em escolher uma figura que simbolizasse o ano e o Brasil em que estamos vivendo e estava quase me definindo pelo Japonês Bonzinho, mas acabei optando por desconsiderar a data. 

Me recuso a recapitular, ainda mais um ano de péssima qualidade como foi 2015, que, fora a volta do Botafogo à primeira divisão, não teve nada que o recomendasse. Prefiro aproveitar o espaço para fazer uma retrospectiva pessoal, de coisas que a vida me ensinou, da sabedoria acumulada através dos anos que, penso, as novas gerações podem aproveitar.

Aprendi que filosofia é tudo o que você diz com o olhar parado – a não ser que você esteja dando um pum.

Que felicidade é descobrir que ainda tem Coca na latinha que você pensava ter esvaziado.

Que a frase mais enternecedora da língua portuguesa é “esse é o colesterol bom”.

E a mais bonita é “os triglicerídios estão normais”.

Que o controle remoto é a maior invenção da humanidade desde a varinha para coçar as costas.

Que o pudim de laranja é a única prova convincente da existência de Deus.

Além da Patrícia Pillar, claro.

Que, em terra de cegos, o trânsito deve ser uma loucura e quem tem um olho abre uma seguradora.

Que algo morreu dentro de alguns brasileiros com a descoberta de que não se pode confiar mais nem em bancos suíços, e nada mais é sagrado.

Que você sabe que não está agradando quando a mulher olha para você como se tivesse acabado de tirá-lo do seu nariz.

Que você sabe que está ficando velho quando a sua memória... a sua memória... O que é que eu ia dizer, mesmo?

Que você sabe que está ficando velho quando só consegue sair da poltrona na terceira tentativa e aí esquece por que se levantou.

Que você sabe que está ficando um velho filosófico quando lhe perguntam o que você acha de viver no Brasil e você responde: “A gente acaba se acostumando...”.

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