terça-feira, 29 de dezembro de 2015



29 de dezembro de 2015 | N° 18399 

PAULO GERMANO

Revoltante e confortante

Esse recesso de fim de ano, que paralisa o país e interrompe um processo de impeachment para que os deputados possam comer peru, é por um lado revoltante, mas por outro é confortante. E oportuno. E agradável. E bem-vindo e conveniente e vantajoso e, pensando bem, nada pode ser melhor do que esse recesso, que na verdade é um absurdo completo.

Perdão, vou explicar.

O Brasil parou – está pendurado no pincel enquanto deputados jogam dominó de chinelo de dedo. E bem no meio de uma crise da qual precisa sair logo.

Embora a Constituição preveja convocação extraordinária do Congresso em casos de “interesse público relevante”, outros interesses têm se mostrado mais relevantes. Porque, bom, Eduardo Cunha e seus amigos tentam retardar ao máximo as votações do impeachment. Acreditam que nos próximos meses o cenário econômico vai se agravar ainda mais, o que desgastaria ainda mais a imagem da presidente.

Quer dizer: eles querem que o Brasil piore. Por isso, não suspenderam o recesso – para dar tempo de o Brasil piorar. Não há estratégia mais hedionda, não há fins que justifiquem esses meios, com representantes do povo trabalhando para arrochar o próprio povo.

Certo. (Errado, na verdade, mas quis demarcar o fim do raciocínio.)

Só que há nesse recesso um viés salutar e confortante, que já aparece nas rodas de papo, na TV da sala, na caminhada da manhã, na conversa com o barbeiro ou no elevador da firma – há um certo sossego no ar.

Uma espécie de bonança se derramando sobre os brasileiros, que ingressaram estarrecidos em um dezembro frenético que poderia ser resumido assim: deputados se estapeiam, comissão de impeachment instalada, Temer manda carta, cai o líder do PMDB, volta o líder do PMDB, Renan briga com Temer, Kátia Abreu joga vinho em Serra, polícia vai à casa de Cunha, Supremo anula comissão de impeachment, manifestações contra o governo, manifestações a favor do governo, Conselho de Ética alivia Cunha, agências rebaixam nota, 2016 vai ser pior, Levy deixa a Fazenda, Barbosa assume a Fazenda, todo mundo berra junto, o Facebook cospe fogo, então CALEM A BOCA, CHEGA, PELO AMOR DE DEUS!!!

E calaram-se.

Veio o Natal para unir as famílias. E vieram o recesso das empresas, o recesso do Judiciário, o recesso de todo o setor público, como num acordo tácito para encerrar o ano com um pingo de harmonia.

O recesso parlamentar é um descalabro – mas, entre todos os descalabros do ano, nenhum veio tão a calhar.

NOTÍCIAS DO BURACO

No domingo, a prefeitura tapou sem capricho o personagem da coluna de sábado. Ontem, sim, deu uma recauchutada no buraco.


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