sábado, 12 de dezembro de 2015



12 de dezembro de 2015 | N° 18383 
CLÁUDIA LAITANO

Reprovados


Não deve acontecer tão cedo, mas se um dia os brasileiros puderem estufar o peito para dizer que neste país todas as crianças têm a chance de estudar em boas escolas, com professores preparados e bem pagos, o Brasil ainda vai ter que se defrontar com problemas que nem mesmo boas escolas conseguem resolver.

Educação formal é muita coisa, sim, mas não é tudo. A ilustração mais eloquente de que nem sempre, no Brasil, a suposta elite intelectual tem honrado as oportunidades que teve são os casos de violência e estupros registrados em festas da Medicina da USP – o curso universitário mais disputado do país, frequentado pelos melhores alunos das melhores escolas. Jovens poliglotas, viajados, conectados – mas muitas vezes também imaturos, inconsequentes, cruéis. 

A que aula eles faltaram? Enquanto isso, do outro lado da pirâmide educacional, estudando em escolas imundas, sucateadas, com professores em boa parte desmotivados e desatualizados, alunos da rede pública paulista deram uma aula de mobilização, organização e consciência política ao resistir a uma reforma educacional imposta de forma atabalhoada e autoritária pelo governo do Estado. Dois e dois nem sempre são quatro.

Corta para Brasília. Na mesma semana, o deputado paraibano Wellington Roberto (curso de Engenharia Civil não concluído/Universidade Federal da Paraíba) e o capixaba Zé Geraldo (Ensino Fundamental) saíram no tapa no meio dos debates da Comissão de Ética, e o senador José Serra (PhD em Economia pela Cornell University) fez comentários inapropriados e de mau gosto para a ministra Kátia Abreu (Psicologia/Universidade de Goiás) – que, por sua vez, em vez de responder a grosseria com superioridade, achou mais adequado jogar uma taça de vinho no interlocutor.

Temos uma presidente da República (Economia/UFRGS) que deixou as finanças do país naufragarem e parece ter dificuldades para se expressar e agir politicamente. Um presidente da Câmara dos Deputados (Economia/Universidade Cândido Mendes) que dá lições diárias de como usar o regulamento de uma instituição para desacreditar a própria instituição – e de quebra empurrar o país para ainda mais perto do abismo. Um vice-presidente (doutorado em Direito/ PUC de São Paulo) que gasta seu latim em uma carta que vira piada nacional. E intelectuais que em vez de exercerem seu espírito crítico como deveriam sucumbem à estúpida polarização política rifando o bom senso em nome da ideologia.

O espetáculo de vaudeville em que se transformou a vida pública do país não pode ser atribuído apenas à falta de preparo dos políticos ou dos eleitores que os conduziram ao poder. O que a crise política e econômica está jogando na nossa cara é a dificuldade de todos nós – trabalhadores, empresários, políticos – de construirmos um país de baixo para cima, honrando a democracia e a civilidade todos os dias, em todos os níveis, e usando a educação para ampliar os horizontes e não apenas as distâncias sociais.

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