sábado, 19 de dezembro de 2015


20 de dezembro de 2015 | N° 18391 
MOISÉS MENDES

Levy, o abandonado


Até no Alegrete poucos devem saber que Oswaldo Aranha foi ministro da Fazenda. Dizem que foi um bom ministro, em dois períodos do governo de Getúlio Vargas, de novembro de 1931 a julho de 1934 e de junho de 1953 a agosto de 1954. Se não tivesse sido, o gênio Mario Henrique Simonsen não teria escrito um livro com a socióloga Aspásia Camargo e o diplomata João Hermes Pereira de Araújo em que trata do Oswaldo metido a economista.

O livro é Oswaldo Aranha – A Estrela da Revolução, da Editora Mandarim, de 1996. Pereira de Araújo fala, claro, do diplomata, e Aspásia Camargo revela o gauchão “artífice da Revolução de 30”. Na parte atribuída a Simonsen, o destaque é a manobra bem-sucedida feita por Oswaldo Aranha para desmontar a bomba do câmbio, no seu retorno à Fazenda, em 1953.

O Brasil tinha uma dúzia de cotações do dólar, a economia estava parada e Getúlio já havia sido cercado pelas hienas. Pois Oswaldo desativou a bomba, e Simonsen conta tudo em detalhes. Pois o advogado do Alegrete, que todos conhecem como o cara das escaramuças gaúchas de 1923, da Revolução de 30, das articulações políticas e da sessão da ONU que resultou na criação de Israel, também foi comandante da Fazenda.

Mas, se quase ninguém se lembra do Oswaldo ministro da Fazenda, quem, daqui a alguns anos, escreverá um livro sobre a passagem de Joaquim Levy, em Brasília, pelo posto que Oswaldo ocupou quando o poder ainda estava no Rio? Levy foi embora na sexta-feira sem desmontar uma única bomba. A maior delas, a do déficit nas contas do governo, tem 12 pavios, como o balaio de câmbios herdado por Oswaldo em 1953.

Só que Getúlio, quando chamou Oswaldo de volta, no segundo governo, tinha certeza de que ele poderia pôr um pouco de ordem nas barbeiragens do antecessor, Horácio Lafer. Oswaldo não chegou a completar o serviço. Getúlio se matou em agosto de 1954.

Levy foi chamado, não por convicção do governo, mas como manobra para transmitir alguma confiança aos que desconfiavam de quase tudo. E por que Levy fracassou? Porque não teve respaldo da presidente que o nomeou? Por que era rejeitado pelo PT? Por que foi boicotado pelo Congresso, considerando-se base aliada e oposição?

Pobre Levy. Foi derrubado pela falta de convicção dos próprios empresários na sua capacidade de cumprir a missão de salvar as contas, salvar Dilma, o governo e a economia. Levy foi abandonado pelos que deveriam protegê-lo. Faltou a Levy o lastro dos que desejam o ajuste a todo custo. Levy caiu pela omissão dos que continuam a desconfiar de Dilma.

A incapacidade de convencer as agências risco e de lidar com os movimentos políticos, dos quais depende a economia (Oswaldo sabia disso), e mais o déficit de carisma são causas complementares. Nunca, em nenhum momento da sua gestão, as forças produtivas tentaram impor à política, via governo e Congresso, os desejos de quem, em tese, deveria sustentá-lo.

Oswaldo tinha, como mostra Simonsen, obsessão pelo câmbio e seus efeitos sobre endividamento, exportações, importações e preços internos, sempre pensando mais adiante na industrialização. Estávamos no Brasil do café, do cacau, dos bois e do aço.

A obsessão de Levy eram as contas públicas. A vasta economia, do lado de fora da Esplanada, nem teve tempo de saber se o ministro tinha algum plano estratégico.

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