27 de dezembro de 2015 | N° 18397
NOTÍCIAS | ECONOMIA
“O fator mais preocupante é a queda nos investimentos”
ENTREVISTA | ADALMIR MARQUETTI - Economista, professor da PUCRS e ex-presidente da FEE
Ex-presidente da Fundação de Economia e Estatística na gestão de Tarso Genro (PT) no governo gaúcho, o economista Adalmir Marquetti aponta o déficit fiscal como um dos principais desafios do novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, mas cita também a retomada dos investimentos como prioridade.
Este foi um ano em que os principais indicadores econômicos andaram para trás. Qual retrocesso é o mais preocupante?
O fator mais preocupante é a queda nos investimentos. Tem dois efeitos importantes. O primeiro, é que reduz gastos na economia. Fazendo isso, puxa o PIB mais para baixo no curto prazo e mina a capacidade produtiva no médio e longo prazo. Tivemos um declínio muito forte em 2015 e não vejo perspectiva de retomada. Se o governo tem uma variável que precisa de atenção no ano que vem seria essa: como retomar o investimento. A própria Lava-Jato teve papel importante nisso, visto que as empresas envolvidas eram responsáveis por grande parte do que era feito no país.
Alguma coisa avançou?
Tem um aspecto que é positivo. A desvalorização cambial tem tido um efeito importante na redução do déficit na conta corrente da balança de pagamentos. Nos últimos anos, o déficit cresceu muito e preocupava. Agora, temos uma melhora do quadro. Talvez em 2016 continuemos a ver melhoras nesse cenário.
A entrada de um novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, com perfil bem mais desenvolvimentista do que o anterior, ajuda ou atrapalha?
O ministro Joaquim Levy teve um problema que foi a incapacidade de entregar aquilo que prometeu. Ele propôs um ajuste rápido e indolor e não foi capaz de fazer, e isso acabou sendo um dos fatores que levaram à saída dele. O ministro Levy não foi muito hábil nas negociações com o Congresso em um momento político difícil.
A substituição por outro ministro traz implicações, mas não aquelas que seriam óbvias. Independentemente das questões teóricas, o ministro tem pouca margem de manobra em relação ao que precisa ser feito. Um exemplo são as contas públicas. Há um problema e medidas precisarão ser tomadas. O diagnóstico é o mesmo, e não existem muitas opções de políticas econômicas que Nelson Barbosa e equipe possam tomar. Nada muito diferente do Levy.
A substituição por outro ministro traz implicações, mas não aquelas que seriam óbvias. Independentemente das questões teóricas, o ministro tem pouca margem de manobra em relação ao que precisa ser feito. Um exemplo são as contas públicas. Há um problema e medidas precisarão ser tomadas. O diagnóstico é o mesmo, e não existem muitas opções de políticas econômicas que Nelson Barbosa e equipe possam tomar. Nada muito diferente do Levy.
Quais são os desafios de Barbosa?
Um deles já está sendo resolvido, que é o déficit em conta corrente. O outro é o déficit fiscal. O Ministério da Fazenda tem pouca margem de manobra para resolver esse problema hoje.
O ministro Levy tinha o ajuste fiscal como mantra e o mercado agora está desconfiado em relação a Barbosa manter o compromisso. É justificável esse temor?
Isso ocorre porque Barbosa participou do governo, com cargos importantes, no segundo mandato de Lula. Mas acho que ele vai ser um ministro melhor do que Levy, justamente pela capacidade técnica. Ele sabe mais de economia do que o Levy. Mas tem uma questão que é um problema comum a ambos: a capacidade política. Barbosa é extremamente competente do ponto de vista técnico, mas nesse momento um ministro com capacidade de negociar com o Congresso não seria mais adequado? O próprio Fernando Henrique foi um ministro político e que deu resposta positiva para solucionar o embate político que acontecia na época. O Levy não teve essa capacidade, e espero que o Barbosa consiga, apesar de não ser o ponto forte dele.
No início do ano, nem os analistas mais pessimistas projetavam retração tão forte. A crise econômica foi alimentada pela crise política ou o problema foi subestimado?
Em certa medida, as duas coisas aconteceram. A crise política e a econômica alimentaram-se uma à outra. Mas a Lava-Jato, ao atingir em cheio a Petrobras e as empreiteiras, teve um papel importante para distorcer a projeção inicial. A recessão é muito forte, e a queda nos investimentos impressiona.
Temos risco de ter um 2016 pior do que foi 2015?
Ano que vem começa pior do que foi 2015 do ponto de vista econômico. Mas, se tivermos tranquilidade no campo político, se a questão do impeachment for superada, se o ministro Nelson Barbosa mostrar habilidade de negociação, podemos terminar 2016 mais otimistas do que estamos hoje. Podemos terminar o próximo ano com uma retomada da economia, mesmo que do ponto de vista estrito da produção ainda estejamos patinando. Talvez a esperança deixe 2017, aí sim, com crescimento positivo.
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