sábado, 26 de dezembro de 2015



27 de dezembro de 2015 | N° 18397 
MOISÉS MENDES

O ano dos refugados


Michel Temer fracassou na tentativa de ser um novo Itamar Franco. Foi-se a ideia de que o vice poderia recolocar a política e a economia nos eixos, como fez o topetudo de Minas a partir de 1993. As pesquisas mostram que o eleitor não quer saber de Michel Temer. Os empresários não gostam dele e até a parte dissimulada do PMDB que o engolia já está saltando fora. Só a turma do Zé Agripino gostaria de vê-lo na cadeira de Dilma. Pobre Temer.

O fim brancaleone do vice-presidente que se empolgou com a ideia do golpe é uma das conclusões de 2015 que dificilmente serão modificadas em 2016. Mais uma observação nessa linha de desfechos que foram amarrados em 2015 e que só um milagre pode desamarrar no ano que vem: Eduardo Cunha não escapa da cassação.

O procurador-geral da República pediu ao Supremo que ele tenha o mandato suspenso. Cunha vai recorrer até à Corte de Haia, mas ninguém mais pode salvá-lo. Nem do Supremo, nem da Comissão de Ética que irá julgá-lo. Foi triturado pela própria ambição o homem que em março a revista Veja apresentou, na capa, como nosso novo estadista. Não funcionou a tática de 1988, que havia gerado Fernando Collor. Cunha avariado não vale nada. Nem seus criadores veem alguma utilidade na criatura.

Mais uma conclusão de 2015, que talvez 2016 possa reverter, dependendo do humor da classe média. A mais recente passeata contra o governo, naquele domingo, dia 13, mostrou que a tese do impeachment passou a constranger muita gente.

Se não fosse assim, a caminhada na Avenida Paulista, com 40 mil pessoas, não teria 15 mil participantes a menos do que a promovida pelos apoiadores do governo, três dias depois (segundo o Datafolha). É dureza ajudar a segurar o mastro de uma bandeira carregada com tanta devoção por Eduardo Cunha, Paulinho da Força e Mendonça Filho. E ainda tem o Bolsonaro, o Caiado...

Agora, uma surpresa de 2015: Joaquim Levy não era a pilastra do governo. Como repetiram e insistiram em megafones da Bolsa de São Paulo que Levy era o que sobrava de reputação na economia, quantos acreditaram nisso. Menos o próprio mercado, que vendia Levy e não o consumia. Os inventores abandonaram Levy, como agora abandonam Temer e Cunha. Liberais genéricos e conservadores em dúvida sobre a própria fé, para não dizer a direita mais volúvel, não têm compromisso de fidelidade com ninguém.

Outra conclusão, esta óbvia, apenas reafirmada em 2015, porque já vem do ano anterior: o esquema que funcionava na Petrobras era o do clube das grandes irmãs, o cartel das empreiteiras para distribuir obras e superfaturar. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) constatou que 21 empresas ganharam R$ 35 bilhões com superfaturamentos de projetos variados. Funcionava assim: deixa eu superfaturar, que tu levas o teu, pra ti e para teus chefes (menos o Barusco, que era avulso). A propina era o troco de milhões que viabilizava mutretas de bilhões.

Agora, uma conclusão na área da beleza. A gaúcha Marthina Brandt, que concorreu a Miss Universo, é muito mais bonita do que a colombiana que chegou a ficar alguns minutos com a coroa e do que a miss Filipinas, a escolhida.

Nem sempre a coroa vai para a cabeça certa. Nelson Barbosa esperou um ano olhando para a coroa na cabeça de Joaquim Levy, enquanto o próprio Levy – como se sofresse bullying dos petistas, dos amigos e do mercado, aqui e em Nova York –, tinha dúvidas sobre a sua coroação. Esperemos que 2016 nos confunda menos.

Nenhum comentário: