14 de dezembro de 2015 | N° 18385
L. F. VERISSIMO
Injustiça
O debate político no Brasil entrou no fértil terreno dos hortifrutigranjeiros. Na discussão sobre a formação da comissão que decidirá sobre o impedimento ou não da Dilma, deputados se xingaram de “banana”. E o ar da nossa augusta assembleia nacional, onde outrora ecoaram as vozes de grandes oradores em embates históricos, foi entrecortado por epítetos ferozes.
– Banana!
– Banana é vossa excelência!
– É vossa excelência!
Um insulto às bananas. Por alguma razão, “banana” se transformou em sinônimo de burrice, de ingenuidade irreversível. Poderia muito bem ser substituído por outro termo, como “babaca” ou “boca aberta”. Ou por outra fruta ou legume, notoriamente sem conteúdo.
– Xuxu! – Quiabo! – Quiabo, não!
A banana teve um papel importante na evolução humana, e não apenas pela sua quantidade de potássio. Dizem que descascar uma banana e descobrir seu insuspeitado interior palatável foi uma das primeiras conquistas do Homem primitivo.
Descascar uma banana e comê-la pode muito bem ter sido um começo, tão importante quanto a invenção da roda, o processo de civilização. Não seria exagero dizer – baseado no que se tem visto no país, nos últimos dias – que a banana tem mais valor histórico e utilidade do que boa parte dos políticos brasileiros.
O debate político no Brasil atual também incorporou um gesto muito comum em filmes americanos de uma certa época: atirar bebida na cara do adversário. O que há tempo não se via no cinema aconteceu há dias em Brasília, se é que não se trata de mais uma notícia sub-reptícia espalhada pelo japonês bonzinho.
A Kátia Abreu atirou vinho na cara do José Serra. Não tenho detalhes do ocorrido (marca do vinho, safra etc). Mas não me surpreendi. Descobri que na linha de sucessão ao Planalto, se a Dilma e o Temer caírem juntos, o Cunha for preso e alguma coisa acontecer com o Renan, assume a Presidência o Tiririca! Nada mais me surpreende.
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