09 de julho de 2015 | N° 18221
L. F. VERISSIMO
“OXI” NELES
Pode ter sido um voto emocional e apenas simbólico, mas o que
simbolizou foi histórico. Votando “não” (“oxi”) num plebiscito que endossou a
rebeldia do seu governo diante do capital financeiro da Europa, os gregos foram
os primeiros a desafiar, oficialmente, a ditadura da Austeridade, que há quase
7 anos – contados a partir da crise bancária de 2008 – martiriza populações
inteiras sem mostrar nenhum resultado, a não ser aumentar o poder dos
credores... Tudo em nome de uma “responsabilidade” fiscal amoral, que ignora o
custo humano do arrocho.
O economista Paul Krugman, que tem sido o crítico mais
constante da Austeridade, compara a sua receita para acabar com a crise com a
dos médicos medievais cuja cura para qualquer doença era a sangria. Se a
sangria não desse certo, eles só tinham um recurso: mais sangria. Contra todas
as evidências de que a Austeridade não está dando certo e só continua porque
favorece os donos do dinheiro e, como um brinde aos neoliberais, desmonta, sob
o disfarce da “responsabilidade”, as estruturas do bem-estar social da Europa
que eram um exemplo para o mundo, dê-lhe sangrias.
O “oxi” não vai reverter esta situação e talvez a piore,
dependendo da punição que vem aí para a malcriação grega. Mas o exemplo está
dado. A única diferença entre a rebeldia grega e a inconformidade com o arrocho
que tem enchido as ruas na Europa, até na Inglaterra, é que o “oxi” veio de uma
consulta ao povo organizada pelo governo, enquanto os protestos em outros
lugares são organizados, ou desorganizados, extraoficialmente.
Nenhum país devedor se arriscaria a imitar a Grécia, e só se
pode especular sobre o resultado de um plebiscito parecido na Espanha, por
exemplo. Lá, o movimento chamado “Podemos” não quer outra coisa senão a
oportunidade de também oxidar como os gregos.
O Brasil de Joaquim Levy adotou a sangria como tratamento.
Sem consultar o paciente, a não ser que se considere a eleição da Dilma para
seu segundo mandato como uma espécie de plebiscito. Neste caso, o resultado da
consulta não foi respeitado. A maioria disse “oxi”, a Dilma ouviu “sim”. E
chamou o Levy.
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