29 de julho de 2015 | N° 18241
DAVID COIMBRA
Por que o PT fracassou
O pior do governo do PT não é a corrupção. É a legitimação de uma espécie de guerra de classes no Brasil. Porque é assim que o governo se justifica. Este seria um governo “dos pobres”, um governo “de esquerda”, o que, por si, seria bom. Finalmente, os pobres estariam representados pela esquerda com consciência social. Os interesses dos ricos teriam sido contrariados para que os pobres, enfim, ascendessem socialmente.
Só que isso não é verdade.
Esqueça a corrupção. Esqueça o autoritarismo inato do PT. Esqueça as sabotagens à democracia representativa. Concentre-se apenas no que os governistas apresentam como pretexto para os seus defeitos: a suposta defesa dos pobres, o mérito intrínseco de ser “de esquerda”.
É um pretexto falso. É uma crença mentirosa. Por quê?
Nenhuma classe social, nenhuma categoria, nenhum país pode ser bem atendido se for só por programas e obras materiais. O Bolsa Família, de longe a melhor ação do governo do PT, é, por natureza, emergencial. Em tese, você resolve aquela questão premente e depois passa para a administração de fato dos problemas da nação.
Muita gente me critica dizendo que, há alguns anos, escrevi colunas favoráveis ao governo do PT e que agora mudei. Não mudei. E nem o governo mudou. Quando o governo começou, pensei: Lula está tratando do que é urgente, em seguida passará às questões estruturais.
Nunca passou.
Lula e os governistas se acomodaram com a facilidade dos programas, com o populismo e com as obras de aço e concreto, fonte borbulhante de corrupção. Isso já foi feito pelo governo militar. Minha mãe conseguiu comprar nosso apartamento graças ao BNH, um programa habitacional. Paguei minha faculdade graças ao crédito educativo, um programa educacional. O Mobral era um bem-intencionado programa de inclusão social por meio da alfabetização. Da mesma forma, a ponte Rio-Niterói, a freeway, a refinaria Alberto Pasqualini, a Usina de Itaipu e outras tantas obras de infraestrutura eram uma espécie de PAC dos militares.
Mas onde ficaram as reformas estruturais depois de 21 anos de governo dos generais? Onde estão agora as reformas estruturais, depois de quase uma década e meia de governo petista?
Em lugar algum, porque não foram feitas.
Os pobres, e por consequência o Brasil todo, só serão realmente atendidos quando o país fizer reformas por dentro, quando for reestruturada a educação básica e fundamental, quando for instituído um federalismo de fato, quando houver uma reforma tributária, quando houver reforma na segurança pública, com mudanças no Código Penal, nas polícias e no sistema prisional, quando o sistema de saúde deixar de ser bom só na teoria.
É assim que os pobres serão ajudados de verdade no Brasil. Só assim. Por que o PT não fez essas mudanças quando tinha chance de fazê-las?
Por má intenção? Não. Simplesmente porque não sabe fazê-las.
O PT jamais teve um projeto de administração do Brasil. Sempre teve um projeto de poder. A ideia era chegar lá e depois ver como “ajudar os pobres”. Empossado, Lula foi tentando, palmeando no escuro. Lançou o Fome Zero. Não deu certo. Adotou o velho programa do Bolsa Família. Deu certo. Lula viu que esse era o caminho da popularidade. Seguiu por ele. E esqueceu-se do resto. Esqueceu-se de que o Brasil precisa de um trabalho duro, difícil, profundo e, muitas vezes, impopular para se tornar uma nação verdadeiramente justa.
Não festejo o fracasso do PT. Ao contrário: lamento. Perdemos tempo. E pior: acirrou-se uma disputa ideológica rançosa, de teor clubístico, que só nos empurra para discussões vazias. O PT não fracassou por ser supostamente de esquerda, não fracassou porque supostamente quer ajudar pobres. Fracassou porque não sabe governa
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