13 de julho de 2015 | N° 18225
Hipócritas
O economista francês Thomas Piketty deu uma entrevista à revista
alemã Die Zeit em que disse, entre outras coisas, que antes de exigir o
pagamento a qualquer custo da dívida grega, os alemães deveriam lembrar seu
passado de devedores. Segundo Piketty, a Alemanha nunca pagou suas dívidas.
Cobrou, com a mesma intransigência de agora, a dívida de
outros, como a reparação paga pela França com muito sacrifício depois da guerra
franco-prussiana de 1870, mas não pagou sua própria reparação depois da I
Guerra Mundial. Esta dívida foi perdoada em 1934, o que desmente a tese de que
foram as exigências dos vencedores da guerra que levaram a Alemanha,
ressentida, a seguir Hitler.
Em 34, a
Alemanha não foi humilhada, como diz a tese. Foi perdoada. Em 1953, depois da
II Guerra Mundial, numa conferência realizada em Londres, decidiu-se perdoar 60%
da dívida alemã, uma generosidade muito maior do que a que os gregos estão
pedindo agora.
Foi esse presente que possibilitou à Alemanha derrotada na
guerra iniciar o “milagre” que a transformou na potência econômica que é hoje,
na posição de mandar na economia de toda a Europa e pregar a austeridade e a “responsabilidade”
que ela mesmo exemplifica. Uma superioridade moral conquistada de calote em
calote.
Na entrevista, Piketty faz um histórico de dívidas nacionais
através dos tempos, mostrando como há várias maneiras de cobrá-las ou equacioná-las
além da ortodoxia assassina receitada por Angela Merkel, mais preocupada com a
saúde dos bancos credores do que com a saúde de populações inteiras privadas de
assistência social pela tal austeridade. O que a Alemanha desmemoriada não
admite é que façam como ela fez, e não como ela manda.
O primeiro-ministro da Grécia não tem idade suficiente para
conhecer um bolero chamado Hipócrita, do tempo em que havia boleros. Se
soubesse, poderia serenar a sra. Merkel com ele, na próxima vez em que se
encontrassem. O bolero começa assim:
“Hipócrita... Sencillamente hipócrita...”
E termina assim:
“Escúchame y
compréndeme,
no puedo ya vivir.
Como hiedra del
mal
te me enredaste
y como no me quieres
me voy a morir”.
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