17 de julho de 2015 | N° 18229
MOISÉS MENDES
Pesquisas: pra quê?
Neste exato momento, alguém está fazendo uma pesquisa de
opinião. Se não fossem os pesquisadores, não ficaríamos sabendo que apenas 5%
dos brasileiros confiam nos partidos. Que 71% dos moradores da Capital são
contra o cercamento da Redenção. Que 80% da população apoia a pena de morte
para traficantes.
Pesquisa-se tudo no Brasil e no mundo. Uma pesquisa informou
aos ingleses que 52% das londrinas preferem comer chocolate a fazer sexo. Já nos
Estados Unidos, a Universidade de Kentucky concluiu que, quanto mais
espiritualizada uma americana, mais sexo ela faz.
Alguém deveria fazer uma pesquisa para saber por que o
brasileiro leva as pesquisas tão a sério. Eu já fui vaiado aqui na Redação da
Zero por ser defensor da seriedade e da utilidade das pesquisas eleitorais.
Mas está cada vez mais difícil defender pesquisas eleitorais.
Principalmente agora, quando decidiram fazer, em sequência, pesquisas sobre as
eleições de 2018. Teremos eleições daqui a três anos e meio, mas os institutos
já fizeram pesquisas para saber em quem o brasileiro votaria. Aécio vence Lula
nas duas, se as eleições fossem hoje.
Em disputas presidenciais, os tucanos só têm vencido em
pesquisas, e desde que sejam feitas fora de época. O que isso significa? Por
que se faz uma pesquisa mais de mil dias antes do evento a que se refere?
As pesquisas são apenas simulações singelas e inocentes de
preferências fora de época, ou querem dizer algo mais? São produtos deste nosso
tempo estranho? Induzem a pensar que haverá uma eleição agora?
Muitos já lembraram, e vale a pena lembrar de novo, que
certos pregadores da ordem dissimulam suas posturas suspeitas até que uma
desordem se apresente como a nova ordem, como aconteceu tragicamente tantas
vezes.
Golpes acontecem sob quaisquer pretextos (e sem necessariamente
mobilizar militares) e sob as mais variadas formas, desde que bem fomentados e
com um bom número de adesistas de plantão. Por isso, as pesquisas, as sérias,
as inúteis e as dissimuladas, também devem permitir que se questionem suas
muitas intenções, ou estariam, acima do bem do mal, imunes a críticas e
desconfianças.
Algum instituto poderia mandar seus pesquisadores às ruas (e
a lugares fechados) com essa pergunta: você se considera golpista? As
alternativas: 1) sim; 2) não; 3) talvez; 4) depende da turma; e 5) prefiro
esperar para ver quem adere primeiro.
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