A ROMÃ
Uma vez, quando vivia no coração de uma romã,
ouvi uma semente dizer: "Algum dia, eu me
tornarei
uma árvore, e o vento cantará em meus ramos,
e o sol dançará sobre minhas folhas,
e serei forte
e bela durante todas as estações."
Então uma outra semente falou e disse:
"Quando eu era tão jovem quanto você,
também tive esses sonhos.
Mas agora posso pesar
e medir as coisas,
e vejo que minhas esperanças eram vãs."
E uma terceira semente falou também:
"Não vejo em nós nada que prometa
um futuro
tão grandioso." /
E uma quarta disse:
"Mas que palhaçada seria nossa vida,
sem um futuro maior!" / Disse uma quinta:
"Por que discutir sobre o que seremos senão
sabemos sequer o que somos?" /
Mas uma
sexta replicou: "Seja o que for
que sejamos,
assim continuaremos a ser." /
E uma sétima disse:
"Tenho uma ideia muito
clara de como tudo será;
mas não consigo
pô-la em palavras".
Então, uma oitava falou, e uma nona,
e uma décima,
e depois muitas - até que todas
estavam falando,
e não pude distinguir mais nada
de tantas vozes.
Por isso, mudei-me, naquele
mesmo dia,
para o coração de um marmelo,
onde as sementes
são poucas e quase silenciosas.
Gibran Khalil
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