sexta-feira, 10 de julho de 2015



Uma antologia da poesia erótica
DIVULGAÇÃO/JC

Antologia da poesia

Antologia da poesia erótica brasileira (Ateliê Editorial, 502 páginas, www.atelie.com.br), com organização de Eliane Robert Moraes, professora de Literatura Brasileira da USP e autora de vários livros, tem ilustrações de Arthur Luiz Piza, premiado gravador, pintor e escultor. Impressiona, já de início, pelos cuidados editoriais e pela extensão.

Eliane Robert Moraes é pesquisadora do CNPq, publicou, entre outros livros, Sade-A felicidade libertina (Imago, 1994) e O corpo impossível - A decomposição da figura humana, de Lautréamont a Bataille (Iluminuras, Fapesp, 2002) e, hoje, desenvolve pesquisas sobre as figuras do excesso na prosa de ficção brasileira.

Antologia da poesia erótica apresenta poemas que vão de Gregório de Matos a Alexei Bueno e Cláudia Roquette Pinto, passando por Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Cruz e Sousa, João Cabral de Melo Neto, Dalton Trevisan, José Paulo Paes, Mario Quintana, Arnaldo Antunes, Paulo Leminski, Cacaso, Roberto Piva, Adélia Prado, Ferreira Gullar, Hilda Hilst, Ana Cristina Cesar, Décio Pignatari, Vinicius de Moraes e dezenas de outros. Como se vê, é uma antologia de amplo espectro e apresenta aos leitores um panorama vasto, tanto em termos de tempo quanto em matéria de vozes diferentes.

Não foram incluídos poetas de gerações mais recentes, por razões não enunciadas, mas possivelmente compreensíveis, e a ausência do grande Manuel Bandeira é explicada na introdução. Há muitos poemas de poetas anônimos e belas e adequadas ilustrações de Arthur Luiz Piza, artista de 87 anos, experiente no tema do erotismo e com vasta carreira no Brasil e no exterior.

Na obra, estão a sensualidade sombria de Augusto dos Anjos, o deboche nonsense de Qorpo Santo, a erótica confessional de Pedro Nava, os cantos libidinosos de Dalton Trevisan, o erotismo mítico de Murilo Mendes, a pornografia concretista de Décio Pignatari, a poética cósmica e lasciva de Roberto Piva, soneto e poema sensuais de Mário de Andrade e, claro, poemas de Carlos Drummond de Andrade e Vinicius de Moraes. O Barão de Itararé, hilário, comparece com uma quadrinha muito engraçada e erótica.

Essa antologia surge quase um século depois das considerações de Mário de Andrade sobre a existência de uma lírica erótica brasileira e percorre mais de quatro séculos, mostrando uma pluralidade de vozes que se afirma como conjunto que nada deixa a dever àquelas "pornografias organizadas" de que falou o criador do lascivo Macunaíma.


O grande conjunto de poemas revela e comprova que os poetas brasileiros, há um tempo, com seu talento, combinaram o rigor do fazer poético com o vigor da ousadia que o tema sugere. Poesia e liberdade dão as mãos nos poemas e o pacto vital se estabelece entre elas e os leitores.

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