sexta-feira, 17 de julho de 2015


Jaime Cimenti

Essa tal felicidade

Nascimento, amor, sexo, pai, mãe, irmãos, Deus, política, dinheiro, morte, outra vida, Facebook e felicidade, talvez os temas eternos mais importantes que tomam conta da cabeça da gente depois que se enche o estômago, arruma um teto, um trabalho e outras coisas materiais. Para o bem e para o mal, aliás, quem precisa correr atrás e anda muito ocupado com trabalho e sobrevivência não tem muita disponibilidade para divagações e outras viagens. Mas é preciso pensar em felicidade, sempre foi.

Tristeza não tem fim / felicidade sim são os versos da linda canção de Tom Jobim e Vinicius de Moraes que a gente prefere não viver na real. Buscar a felicidade segue uma das principais metas. Na Grécia antiga, felicidade era eudaimonia (bom espírito), no Budismo, felicidade é tema central, Cristo colocava a felicidade no amor, Maomé na caridade, Freud achava que a gente consegue ser feliz em parte. Por aí. Hoje, muita gente coloca a felicidade na busca das coisas materiais, do sucesso, na apresentação só de imagens vitoriosas nas fotos das redes sociais, muitas vezes, infelizmente, para provocar inveja nos outros. Felicidade virou, tipo assim, obrigação.

Pensando bem, pensando melhor, ótimo é ser feliz sem motivo e quando o caminho para ela, em si, já é a felicidade. Fazer a alegria dos outros, curtir a amizade feliz que é o amor que não acaba, ver que a vida está valendo a pena, gostar do que se tem, amar, ser amado, ser caridoso, respirar fundo e meditar quando a barra pesa, tudo isso é felicidade. Tudo bem, grana acalma os nervos, dizem os italianos, mas pequenas coisas e gestos às vezes pesam mais.
Na última Veja, nas páginas amarelas, tem entrevista interessante com o guru inglês da felicidade, o professor Paul Dolan, da London School of Economics. 

Depois de anos de pesquisas, ele, em síntese, diz que é bom fazer ginástica, unir prazer com propósito, repetir no cotidiano o que nos dá prazer, arranjar uns pilas, fazer o que realmente nos interessa e não aos outros e se relacionar bem com os colegas de trabalho, a família e os amigos. Paul enfatiza que pessoas mais felizes são mais produtivas, mais saudáveis, ficam menos doentes, ajudam mais os outros e vivem mais. Felizes vivem até seis anos a mais. Bom para as pessoas, as empresas, os governos, os planos de saúde, para todos, enfim. Paul ensina que os mais jovens e os mais velhos são, em média, os mais felizes. Verdade. E crianças e velhos, a gente sabe, adoram a mesma coisa: chocolate.

Se adaptar às situações, aos locais e às pessoas, ter objetivos, se relacionar bem, ter identidade étnica, ajudar os outros, buscar apoio na família e nos amigos, gostar de si mesmo, ter autoconfiança, pertencer a um grupo, gostar do que se tem, sempre é bom lembrar, traz felicidade. Por vezes não é fácil, mas o caminho precisa ser construído. E de modo pessoal, individual, criativo.
Dalai Lama e o Papa Francisco são exemplos de líderes que passam mensagens positivas e conteúdos que ajudam as pessoas a serem mais felizes.

A propósito...

Quando Carlos Drummond de Andrade - para muitos, nosso maior poeta - completou 75 anos de idade, a repórter da Globo perguntou, à queima-roupa: o senhor é feliz? Drummond, que nunca foi muito de perguntas e entrevistas, respondeu: "olha, minha filha, estou vivo." A vida, a primeira, a maior felicidade, a essência. O resto é construção, caminho, lágrimas e sorrisos, acertos e erros, estações, partidas e chegadas. É como disse o outro, um rasgar-se e costurar-se contínuo. E que a gente guarde eternamente os momentos felizes. Já será muito. Aí, quem sabe, a felicidade não vai ter fim, ao contrário dos versos, que devem ficar só na canção.

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