23 de julho de 2015 | N° 18235
EDUCAÇÃO FREIO NAS VERBAS
CORTES CHEGAM À PESQUISA
UFRGS E OUTRAS UNIVERSIDADES FEDERAIS reclamam repasses para a compra de materiais de laboratórios e para a formação de alunos da pós-graduação. Professores e alunos apontam prejuízo aos estudos científicos
Maior instituição de Ensino Superior do Estado, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) padece com corte de dinheiro para pesquisa e formação de mestres e doutores. Dos R$ 4 milhões esperados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para subsidiar materiais para laboratórios e bibliotecas, participação de pesquisadores em congressos internacionais e atração de professores de fora para bancas de teses, apenas R$ 1,16 milhão deve pingar na conta da instituição em 2015.
No início do mês, as universidades federais foram informadas pelo Ministério da Educação (MEC) de que o orçamento de programas de apoio à pesquisa na pós-graduação (Proap e Proex) será enxugado em 75% neste ano. Mesmo diminuídos, os repasses, sempre feitos em março, até agora não ocorreram.
A situação deixa apreensivos alunos e professores. Na semana passada, a Associação de Pós-Graduandos da UFRGS reuniu representantes de diferentes cursos para ver o impacto do corte em cada área. Como protesto, alguns docentes trocaram seus perfis no Facebook por imagens pretas, sinalizando luto. O barulho só não é maior porque a bolsa dos pesquisadores tem sido paga em dia. Esse subsídio, que corresponde a cerca de 80% do valor que a Capes repassa às instituições, não deve sofrer alteração.
Sem dinheiro, a UFRGS suspendeu a aquisição de materiais laboratoriais e a liberação de verba para pesquisas de campo. Em alguns dos 84 programas, faltam canetas e blocos de anotações e folhas para imprimir trabalhos.
– Se eu precisar paralisar meu projeto, vou atrasar minha formação em pelo menos um ano. Isso traz prejuízo não só para a minha carreira, mas também à pesquisa acadêmica – desabafa Pablo Gustavo Oliveira, doutorando da Faculdade de Medicina.
Gustavo iniciou em setembro do ano passado a coleta de sangue de 104 voluntárias para pesquisa sobre o efeito da menopausa em alguns hormônios. O trabalho foi interrompido: a compra do kit para exames, avaliado em R$ 4,2 mil, depende do dinheiro da Capes.
Situação incômoda também aflige sua colega Vera Susana Vargas. Mestranda em Medicina, ela se preparava para apresentar um trabalho em um congresso internacional no segundo semestre, quando foi avisada para não contar com auxilio para viajar. Ela diz que a medida prejudicará seu currículo e diminuirá o impacto do trabalho na comunidade científica.
Apenas na Medicina, a previsão de repasses caiu de R$ 190 mil para R$ 47,5 mil. Como efeito, a faculdade corre o risco de perder a nota de avaliação junto ao MEC. Essa classificação leva em conta a produção científica e o número de formandos a cada ano, e interfere diretamente na liberação de recursos da Capes nos anos seguintes.
– Tínhamos uma expectativa de orçamento que se reduziu a quase nada. Estamos vendo como buscar outras fontes de recursos em pleno andar do ano letivo – afirma Edison Capp, presidente do Fórum de Coordenadores de Pós-Graduação da UFRGS.
erik.farina@zerohora.com.br
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