Por uma vida mais simples
Pode parecer
estranho falar de vida mais simples no mundo de hoje, cheio de complicações de
todo tipo, linguagens tantas vezes confusas, acordes dissonantes, parafernálias
eletrônicas e digitais, sons, imagens e palavras em excesso e complicação até
na hora de cozinhar e comer.
Por uma vida mais
simples - Histórias, personagens e trajetória da simplicidade voluntária no
Brasil (Cultrix, 232 páginas, www.livrovidasimples.com.br), de André Cauduro
D'Angelo, professor da Pucrs e da ESPM-Sul, administrador de empresas e mestre
em marketing pela Ufrgs, acaba de ser lançado. Em boa hora. Com apresentação da
jornalista e escritora Danuza Leão, a obra foi inspirada, principalmente, na
leitura do famoso livro norte-americano The Simple Life, do pastor francês
Charles Wagner, publicado em Nova Iorque em 1901.
The simple life
foi elogiado pelo presidente norte-americano Theodore Roosevelt em discurso e o
autor foi recebido por ele na Casa Branca. Trinta e cinco anos depois do
lançamento do livro de Wagner, Richard Barlett Gregg, discípulo de Mahatma
Gandhi, escreveu o ensaio O valor da simplicidade voluntária, repetindo as
lições de Wagner, ao que tudo indica sem ter lido seu livro. Em 1976, Duane
Elgin e Arnold Mitchell, pesquisadores de Stanford, publicaram um relatório
sobre tendências de comportamento que batizaram de "simplicidade
voluntária".
Partindo de tais
elementos e de dezenas de livros, e, principalmente, com base em depoimentos de
brasileiros como Danuza Leão, Ricarto Setti, Luiz Jacques Saldanha, Paulo
Roberto Silva e outros, André Cauduro D'Angelo fala da origem da palavra
simplicidade, do bosque de Walden (e do livro de Thoreau) na Região
Metropolitana de Boston e de como pessoas mudaram de vida, de modo radical,
para viver de modo mais simples.
Milhares de
pessoas questionaram a vida que levavam e procuraram a felicidade, deixando,
por exemplo, a agitada rotina urbana para abrir uma pousada no litoral. Muitos
questionaram o ter em detrimento do ser, a vida estéril em reuniões intermináveis,
em escritórios inóspitos, e as cargas de trabalho cavalares, e deram pequenas
ou grandes guinadas em suas vidas.
1
Num dos
depoimentos, o arquiteto Carlos Alberto Capra, 58 anos, de Porto Alegre, diz:
"nossa sociedade é baseada no 'ter para ser'. A roupa da moda, a etiqueta,
a marca. Quando a gente descobre que não ter nada disso traz felicidade... é o
grande momento". Com a mulher, Capra mudou de vida, construiu uma casa de
25 m2, no Interior, deixou um emprego público na Capital e passou a trabalhar
como autônomo e a dedicar boa parte do tempo a projetos voluntários.
Com as lições do
livro, as indicações bibliográficas do final e, especialmente, com os
depoimentos dos "simplificadores", os leitores poderão ter diante de
si uma perspectiva diferente, sem dúvida, sobre como viver a vida.
A propósito...
Danuza Leão mudou de casa 36 vezes, entre Brasil
e exterior. Morava num apartamento com duas salas, três quartos, dois
banheiros, quarto de empregada e tudo mais. Resolveu morar num apartamento com sala
e quarto integrados. Teve que desapegar de montes de coisas, livros, cristais,
roupas, obrigou-se a simplificar. A gaúcha Sônia Griebeler mudou de uma ampla
casa em um condomínio para uma barraca enquanto aguardava a construção de uma
nova casa e o momento de se aposentar de um emprego de bancária e mudar
radicalmente de vida. Essas e outras histórias estão no livro, mostrando que
simplificar é possível e, muitas vezes, necessário.
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