14 de julho de 2015 | N° 18226
LUIS AUGUSTO FISCHER
O QUE FAZER COM O CAIS
Tenho contado algumas experiências vividas aqui na Europa,
ao longo de todo um ano que está terminando daqui a bem poucos dias. Nada
melhor, para fechar esse ciclo, do que falar sobre o Cais do Porto de Porto
Alegre, com base em uma recentíssima experiência.
Em Porto Alegre – cidade que tem em seu nome a marca de ter
sido um porto, o que destaca definitivamente a importância dele para a cidade –,
há todo um porto desativado, que apenas aqui e ali volta a ser usufruído pela
comunidade. O melhor exemplo é, e vai voltar a ser, a Feira do Livro, que por
duas semanas devolve aquele pedaço de cidade aos cidadãos. A alegria que toma
conta de nós todos ao botar os pés e os olhos ali é qualquer coisa.
Contra esse uso, há uma tendência a repassar a área para
construir mais um shopping e mais um hotel. Argumenta-se que daria lucro
bastante e faria o gosto de meia-dúzia que ali se hospedasse. Mas uma cidade não
é para dar lucro bastante e para fazer o gosto de meia-dúzia.
Em Nantes, interior da França, há uma maravilha ocupando um
porto que perdeu a atividade: www. lesmachines-nantes.fr/fr/les-machines-de-l-ile/le-grand-elephant.
(Devo a dica ao Alfredo Aquino!)
Fico imaginando a cena: o prefeito de Nantes faz uma reunião
e diz que o porto está abandonado, que não tem mais serventia. Alguém teria
alguma ideia? Aí um cara diz: eu tenho – vamos fazer um elefante para passear
por ali.
Sim, um elefante mecânico, estrela maior de um complexo de
maluquices que atrai turista de toda parte. Tem coleção de plantas tropicais, tem
exposição de protótipos de outros animais mecânicos, tudo isso em volta de um
antigo estaleiro. Ah, sim, e tem muito lazer, brinquedos, roda-gigante com
bichos do mar, uma coisa inesquecível.
Por que Porto Alegre tem que se contentar com mais uma privatização
de espaço público, com mais uma obra saída da cachola de um tecnocrata? Eu, por
mim e pelas crianças de qualquer idade, quero um elefante parecido ao de Nantes!
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