sábado, 6 de dezembro de 2014


06 de dezembro de 2014 | N° 18005
NÍLSON SOUZA

AS ESTRELAS DE SANDRA

Fiz uma pausa n’O Homem que Amava os Cachorros (589 páginas, até o fim do ano vai) para ler Vozes Anoitecidas, que ganhei de um amigo secreto de nome bonito (não façam mau juízo, é só exibicionismo: o cara se chama Nílson). E fiz outra pausa nos contos de Mia Couto para ler, de uma sentada, All Star Azul, fábula infantojuvenil escrita pela colega jornalista Sandra Simon. Fiquei encantado com a delicadeza da história e das histórias dos meninos e meninas do edifício.

Com a sensibilidade e a responsabilidade de mãe de Gabriela, 11 anos, a quem o livro é dedicado, Sandra incorpora o menino do 10º andar e lança um olhar teenager sobre as demais crianças do prédio – cada qual com as suas características, manias e comportamentos típicos da pré-adolescência. Impossível não se identificar com os personagens. Nunca morei em edifício, mas os pensamentos e sentimentos da garotada dessa idade são universais.

All Star Azul é também uma sutil história de amor, aquele mágico primeiro amor que se esconde na timidez, nas palavras não ditas e nos olhares desviados. A menina do sétimo andar usa o tênis que dá título ao livro e faz brownies deliciosos. Que menino resistiria?

Mais não conto porque não sou estraga-prazer. O livro, com ilustrações de Samanta Floor, pode ser encomendado pelo e-mail setembro.ideias@gmail.com. É um bom presente de Natal para crianças de verdade e também para crianças travestidas de adulto.

Vale a pena conhecer as estrelas de Sandra, que não são os meninos e meninas do edifício, como cheguei a pensar depois da primeira leitura. São as letras, que ela domina com maestria e ternura, colocando cada palavra no seu exato lugar para formar uma verdadeira galáxia de estrelas azuis no universo infantojuvenil.


A pausa foi reconfortante. Voltei revigorado à prosa poética do moçambicano Mia Couto e ao impressionante relato do assassinato de Leon Trotsky, escrito pelo cubano Leonardo Padura. Também recomendo ambos como leitura de fim de ano.

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