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domingo, 2 de outubro de 2011
DANUZA LEÃO
A verdade de cada um
Uma pessoa não sabe o que se passa na cabeça de quem dorme com ela na mesma cama há 20 anos
Ninguém sabe o que o outro pensa, o que acha, o que quer, o que pretende fazer; sobretudo, o que é capaz de fazer. Uma pessoa não sabe o que se passa na cabeça de quem dorme com ela na mesma cama há 20 anos -e talvez seja melhor assim. E quem pode afirmar saber quem é seu pai, quem é sua mãe, quem são seus filhos?
Aconselho a quem estiver lendo a não responder a essa pergunta, para não dizer bobagem.
Existem homens que, depois de um longo casamento, saem de casa para comprar cigarros e nunca mais voltam. Segundo seus familiares, eles nunca tinham dado uma pista de que a vida não estava boa; que poderiam, de repente, tentar um outro rumo.
Sempre tive curiosidade de saber para onde vão esses homens que somem e nunca mais são encontrados. Será que planejaram o que iam fazer, ou foi um impulso da hora? E em sua nova vida, terá mudado de cidade, de profissão, de nome?
José Dirceu mudou até de cara, mas tratando-se de pessoas normais, nunca se vai ter essa resposta, pois os que fazem isso desaparecem, e para sempre. São muito estranhas, as pessoas. Esses pensamentos me perturbam desde que li sobre o caso do menino de dez anos que atirou na professora e depois se matou.
A polícia está investigando, interrogando os colegas, e os pais -pobres pais- não vão escapar de ter que responder a perguntas cruéis; existe também a suspeita de ele ter sofrido bullying, o que, para alguns, seria uma explicação. Aliás, para esses alguns, o bullying, tão na moda, pode explicar tudo.
Mas por mais que todos -a polícia, os colegas, as professoras, a família, os psicólogos- se esforcem, esse caso não será, jamais, esclarecido. Ninguém nunca soube, e nunca saberá, o que se passou na cabeça desse pobre menino. As hipóteses podem ser muitas, e o que todos procuram é a verdade, essa coisa abstrata que pode ser várias, dependendo de cada um.
Como o pensamento é livre, tenho uma opinião: o menino levou o revólver para a escola talvez para mostrar aos colegas, de pura traquinagem infantil; apontou a arma, ela disparou, e o tiro acertou a professora.
Tratando-se de um garoto tranquilo, bom aluno, sem nenhum indício de ser violento, ele teria se desesperado ao ver o que aconteceu, daí o suicídio. Posso estar totalmente errada, mas como cada um tem o direito de imaginar qualquer coisa, foi o que me ocorreu.
Alguns coleguinhas estão contando que ouviram do menino que ele estaria falando em matar a professora. Mas crianças, além de terem uma imaginação fértil, também mentem muito; talvez por não saberem das consequências de suas palavras, talvez por se sentirem importantes e adultas, por estarem sendo ouvidas por policiais, a verdade é que não se pode confiar muito no que elas dizem.
E nem sempre as coisas têm uma lógica. Será que pessoas perfeitamente normais podem ter um momento de loucura, e nesse momento fazer coisas em que nunca tinham pensado?
Será que um revólver na mão dá uma sensação tão grande de poder que leva alguém a cometer um ato de total desvario? Pode ser que não, mas também pode ser que sim. Já lemos muito sobre isso.
Mas o caso do menino que atirou na professora e que depois se matou -disso eu tenho certeza- está condenado a não ser, jamais, esclarecido.
danuza.leao@uol.com.br
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