terça-feira, 4 de outubro de 2011



04 de outubro de 2011 | N° 16846
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Uma história de amor

Modestamente, acho que tenho uma das melhores bibliotecas de meu quarteirão sobre a Paris dos Anos 20 e a Geração Perdida. Essa coleção vem de ser enriquecida agora com Casados com Paris, uma história romanceada dos breves anos de casamento entre Ernest Hemingway e Hadley Richardson, e cuja ação se passa nos “roaring, fabulous twenties”.

A autora é Paula McLain, que por 335 páginas toma a voz e a maneira de ser de Hadley, numa narrativa que empolga desde os primeiros capítulos. A história começa em Chicago, onde eles se conhecem, e evolui para aquela Paris que ninguém descreveu melhor do que Hemingway em A moveable feast.

Aqui devo confessar que em 1980 segui o inteiro roteiro de Hemingway e Scott Fitzgerald por cada bar, café e restaurante que frequentaram numa cidade fascinante, que à época mantinha uma sedução essencial. É ela que volta a cada parágrafo de Casados com Paris, em todo o seu esplendor.

Lugares como Le Dôme, La Rotonde, Le Select, La Closerie des Lilas, Les Deux Magots, La Nègre de Toulouse e inumeráveis outros retornam, vivos e pulsantes, ao longo de um inventário de lembranças em que estão presentes Gertrude Stein, Ezra Pound, John dos Passos, Ford Maddox Ford, Scott Fitzgerald e mais uma constelação de astros que hoje fazem parte da literatura universal.

Um filho não planejado, mas muito amado, Bumby, e a perda de todos os originais de Hemingway num trem em que estava Hadley sozinha quase balançou um casamento perfeito. Mas eles se reconciliaram, embora não tivessem meios de superar um vendaval que soprou sobre suas vidas.

Pauline Pfeiffer, uma rica herdeira americana, seduziu Ernest em meio a um jogo de dissimulação e arrogância que acabou percebido por Hadley. Ela lutou com suas fracas forças para conservá-lo, mas toda tentativa resultou inútil. O inevitável sobreveio: a separação.

Biógrafos de Hemingway, como Carlos Baker e A. E. Hotchner, atestam que ele jamais esqueceu de Hadley.

Em maio de 1961 ele telefonou a ela e disse: “Amamos demais um ao outro”. Num sábado de julho do mesmo ano, tomou sua arma preferida e suicidou-se.

Foi o fim trágico de uma bela história de paixão.

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