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segunda-feira, 3 de outubro de 2011
03 de outubro de 2011 | N° 16845
J. A. PINHEIRO MACHADO
Mário Fernandes e as touradas
Por toda parte, na semana passada, encontrei dois coros uniformes: condenação à atitude de Mário Fernandes, que se recusou a participar da Seleção Brasileira, e aplauso à insólita proibição das touradas na Catalunha. Essas reações diante de dois fatos tão diversos revelam a mesma tentação e o mesmo encantamento diante do pensamento único e do politicamente correto.
Contra Mário Fernandes, li e ouvi em mais de um lugar, além da censura, recomendações: “apoio psicológico”, como se estivesse cometendo uma insanidade. Quantos de nós já tivemos que tomar atitudes absolutamente incompreensíveis para os outros, e que nos pareciam as atitudes adequadas?
O fato de ser, como dizia o grande poeta, “restos de um menino que passou”, me faz lembrar, tempos atrás, a decisão do jovem jornalista, quando resolvi recusar o emprego que todos cobiçavam, simplesmente... porque quis! Fui salvo do afogamento diante do tsunami de opiniões alheias por um antigo colega de cabelos brancos que me sugeriu: “Esquece o que os outros acham. Ouve apenas o teu coração”. No outro dia, com o coração em festa, de certa forma fiz o mesmo gesto contracorrente do Mário Fernandes.
Não importa se Mário recusou a convocação pela humilhação de ser reserva na lateral de um centromédio improvisado, ou pelo constrangimento de ter que discursar no refeitório, ou pelo “estresse” que sentiu: o que importa é que, aparentemente, decidiu pela sua consciência. Ou pela sua conveniência.
Em relação à proibição das touradas, fico com a mesma desconfiança diante do aplauso generalizado à suposta medida de proteção aos animais. No fundo, o decreto, antes de preservar os touros, parece querer amputar um traço marcante que une a Catalunha à Espanha.
As touradas estão na vida, na arte e na literatura espanholas, estão nas telas de Picasso, de Miró, de Goya. Por certo, os touros que vão à arena são criados nas melhores condições, com todos os cuidados, e talvez sofram menos do que a multidão de reses confinadas, torturadas e abatidas diariamente.
O escritor português Miguel de Sousa Tavares revelou uma desconfiança ainda mais grave, lembrando com amargura a frase de Macaulay: “Os puritanos detestavam os combates de ursos, não porque esses jogos causassem sofrimento aos ursos, mas porque davam prazer aos espectadores”.
Mesmo que se admita a sinceridade de propósitos da exígua maioria do parlamento catalão que virou a página da tradição, fica a dúvida invencível de ter escapado da proibição o “correbous”, ritual dos touros soltos nas ruas, tendo nos chifres dispositivos com material combustível, que queima o animal, deixando-o enlouquecido pelo calor, fazendo-o correr e investir em desespero para todo lado, tentando livrar-se da tortura.
Nas touradas, às vezes, a plaza lotada fica em silêncio: uma tarde, vi Paco Camino levado numa ambulância, depois de ser chifrado pelo touro.
Luis Fernando Verissimo encontra-se em férias até o dia 3 de novembro
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