sábado, 12 de julho de 2008



12 de julho de 2008
N° 15660 - Nilson Souza


Boas notícias

Às vezes, parece mesmo que os políticos são todos iguais. Na Romênia, os senadores aprovaram na semana passada uma lei que obriga as estações de rádio e televisão do país a divulgar notícias positivas e negativas em igual proporção.

O autor do projeto disse que seu objetivo é melhorar o clima geral e oferecer ao público a oportunidade de ter uma visão equilibrada da vida cotidiana. Se os fatos mostrarem o contrário, como dizia Nelson Rodrigues, pior para os fatos.

Além da interferência indevida no direito dos cidadãos de conhecer a verdade inteira, por pior que ela seja, os parlamentares do país do Drácula largaram um pepino nas mãos dos jornalistas: encontrar notícias boas em número suficiente para promover o desejado equilíbrio.

Comecemos pela definição mais clássica de notícia, feita por um jornalista americano no início do século 19: "Quando um cachorro morde uma pessoa, isto não é notícia. Mas quando uma pessoa morde um cachorro, isto é notícia". Neste caso, na visão dos senhores parlamentares, tanto a notícia quanto a não-notícia entrariam no lado negativo.

Como contrabalançar? Jornalista não inventa notícia. Pelo menos, não deveria. E as pessoas não querem saber apenas dos acontecimentos normais. Querem conhecer o diferente, o inusitado, o surpreendente.

E fatos positivos com tais ingredientes são raros. Não acho que seja apenas por morbidez que o público consome noticiário sobre tragédias e escândalos. É, muito mais, porque tais fatos mexem com a imaginação e com as emoções das pessoas.

Jornais só com boas notícias já foram tentados muitas vezes, mas sempre acabaram na pior notícia para eles: a falência.

O poeta Affonso Romano de SantAnna, que esteve recentemente por aqui para participar do Fronteiras do Pensamento, conta que na década de 60, quando trabalhava no Diário de Minas, ele e seus colegas de Redação resolveram fazer uma brincadeira de 1º de abril.

Reproduziram a primeira página do jornal na capa do segundo caderno, com desenho igual, mas apenas com boas notícias, todas inventadas:

Descoberta a cura do câncer, Valeriodoce (time mineiro) ganha o Mundial de Clubes etc. Alguns leitores acharam graça, mas vários outros ficaram muito decepcionados quando se deram conta de que tudo não passava de um bem-humorado logro.

As pessoas não gostam de ser enganadas, nem de brincadeira.

Por isso, o melhor e o mais honesto é retratar a realidade exatamente como ela é. Sem disfarces nem imposições. Ao contrário do que pensam os políticos romenos, a tentativa de interferir na vida das pessoas com um decreto autoritário não é uma notícia boa.

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