Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 12 de julho de 2008
12 de julho de 2008
N° 15660 - Cláudia Laitano
Old Boomers
"A morte nada é para nós, pois aquilo que já foi dissolvido não possui mais sentimentos. E aquilo que não possui mais sentimentos não nos importa." A frase, de Epicuro, filósofo do século 4 antes de Cristo, parece ter inspirado Gilberto Gil (1942) na música Não Tenho Medo da Morte, que está no disco Banda Larga Cordel:
"Não tenho medo da morte/ Mas sim medo de morrer/ Qual seria a diferença/ Você há de perguntar/ É que a morte já é depois/ Que eu deixar de respirar/ Morrer ainda é aqui/ Na vida, no sol, no ar/ Ainda pode haver dor/ Ou vontade de mijar/ A morte já é depois/ Já não haverá ninguém/ Como eu aqui agora/ Pensando sobre o além".
O último disco de Ney Matogrosso (1941), Inclassificáveis, é quase todo dedicado à reflexão sobre a passagem do tempo. Usando nos shows um figurino exuberante que faz referência ao começo da sua carreira solo,
Ney canta músicas como O Tempo Não Pára, Leve ("Viver ou morrer é o de menos/ A vida inteira pode ser qualquer momento/ Ser feliz ou não: questão de talento"), Lema ("Não vou lamentar/ A mudança que o tempo traz,/ Não o que já ficou para trás/
E o tempo a passar sem parar jamais/ Já fui novo, sim/ De novo, não/ Ser novo pra mim é algo velho/ Quero crescer / Quero viver o que é novo,/ Sim o que eu quero assim/ É ser velho") e Divino Maravilhoso ("É preciso estar atento e forte/ Não temos tempo de temer a morte") - que cantada por um senhor de 67 anos ganha todo um novo significado.
Em 2006, com emblemáticos 64 anos (a idade mitológica da canção que Paul McCartney compôs na adolescência), Caetano Veloso (1942) gravou um disco de rock, Cê, com uma banda formada por músicos de 20 e poucos anos e letras sutilmente melancólicas,
em que a velhice não aparece de frente, mas alimenta uma raiva de origem bem diversa daquela que costuma acompanhar o estereótipo do garoto iconoclasta que odeia a tudo e a todos - uma das músicas chama-se, não por acaso, Odeio ("Veio um garoto do arraial do cabo/ Belo como um serafim/ Forte e feliz feito um deus/ Feito um diabo/ Veio dizendo que sim/ Só eu, velho, sou feio/ E ninguém").
Em seu mais recente romance publicado no Brasil, Fantasma Sai de Cena, Philip Roth (1933) volta ao tema da velhice e da decadência física. No livro anterior, Homem Comum, ele havia sintetizado todo seu desconforto com a idade com uma frase de sinceridade desconcertante: "A velhice é um massacre".
Em Fantasma Sai de Cena, acompanhamos um narrador que vai lentamente perdendo a memória, e a identidade, ao mesmo tempo em que tem a chance, ainda uma última vez, de viver uma fantasia erótica com uma mulher bem mais jovem.
No livro dentro do livro, Nathan Zuckerman, o personagem, imagina o que poderia ter sido a história deles se a poderosa fantasia de um grande escritor pudesse ser mais forte do que a passagem do tempo - não é.
Como prova o interesse de Epicuro pelo assunto, reflexões sobre a morte ou a velhice são tão antigas quanto a história do pensamento.
O que chama a atenção nesses artistas que foram jovens na década em que a juventude foi inventada como estilo de vida (os já chamados "old boomers") não é a urgência que eles têm para falar do assunto, mas nossa dificuldade em aceitar que os ídolos que ajudaram a desmascarar a caretice dos adultos de sua época estão velhos e perplexos - e não fazem segredo disso.
Quarenta anos depois de Panis et Circencis, as pessoas na sala de jantar continuam ocupadas em nascer e morrer. Mas os "old boomers" estão mostrando que ficar sentado, e em silêncio, definitivamente não é o único jeito de envelhecer.
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