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sexta-feira, 11 de julho de 2008
11 de julho de 2008
N° 15659 - Liberato Vieira da Cunha
Uma garota na neblina
É raro ver desfilando em meio à paisagem gris de inverno um instante de pura beleza.
Foi o que me aconteceu no último sábado na que é talvez a mais larga avenida de Porto Alegre. O sinal fechou e os carros pararam comportados para assistir à passagem de uma única pedestre.
Era uma garota de uns 20 anos, meio surreal em sua travessia. Vestia roupas coloridas que contrastavam com o cinza da manhã. Puxava uma dessas pequenas malas dotadas de rodas que se vê muito nos aeroportos. Não tinha pressa.
Cruzou descansada as quatro pistas que se projetavam à minha frente e, quando transpôs o canteiro que separava as pistas opostas, incendiou-se de luz. Uma ponta de sol havia rompido a cerração e pousado nela, revestindo-a de uma extraordinária lindeza.
Quase perdi a respiração ao vê-la assim tão bela, atravessando, perfeita e descuidada, o outro trecho da perimetral. E iluminada seguiu rumo à calçada, que foi quando a perdi. O sinal havia aberto e os carros arrancavam, apressados.
Quem não arrancou fui eu. Isto é, meu carro moveu-se, tomou outras ruas, dobrou esquinas, subiu ladeiras, parou em sinais, mas dentro de mim persistia intacta a claridade da menina em toda a sua formosura.
Percebo que usei a palavra formosura, que soa antiquada como uma serenata antiga, mas não encontro outra para descrever o que presenciei. Aquela garota encantou meu dia e me fez prisioneiro de perguntas sem resposta.
De onde vinha? De uma primeira noite de amor com seu enamorado? Para onde ia? Pegar um avião vermelho que a alçasse sobre as nuvens, lá onde tudo é azul?
O que a tornava tão linda, a ponto de convocar o sol para dentro das névoas de julho? A magia de sua formosura?
Nunca saberei. Sei no entanto o bastante: por um momento desceu a primavera sobre este inverno.
Ótima sexta-feira e um excelente fim de semana
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