segunda-feira, 31 de outubro de 2022


31 de Outubro de 2022
OPINIÃO DA RBS

A DEMOCRACIA FALOU

As urnas consagraram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como o próximo presidente do Brasil e Eduardo Leite (PSDB) como o primeiro governador reeleito do Rio Grande do Sul. A democracia falou. É legítimo que, nas primeiras horas após o resultado, os vitoriosos e seus apoiadores celebrem efusivamente o desfecho da eleição. É preciso lembrar, no entanto, que a tarefa prioritária de Lula é trabalhar pela união do país e, a de Leite, pelo desenvolvimento do Estado. A pacificação é uma exigência especialmente no caso nacional. A disputa acirrada e encerrada por diferença mínima em relação ao presidente Jair Bolsonaro (PL) reflete a profunda cisão da sociedade, que urge começar a ser cicatrizada. Uma parcela significativa da população votou no projeto de Bolsonaro, e o compromisso do petista tem de ser o de governar para toda a coletividade.

A responsabilidade do presidente eleito é imensa. Sua vitória não deve ser compreendida como um cheque em branco para o mandato. Já foi dito e repetido que sua intenção é acabar com o teto de gastos, mecanismo que limita a expansão da despesa do governo. É preciso esclarecer o que será colocado no lugar como âncora fiscal do país. O Brasil aguarda que o petista detalhe o quanto antes o seu plano de governo, especialmente para a economia, área em que foi vago durante a campanha.

Lula fez um primeiro mandato (2003-2006) conciliando austeridade com políticas sociais. Reeleito, começou a abandonar a responsabilidade e ampliar a gastança, desequilíbrio que esteve na raiz da brutal crise econômica de meados da década passada, na gestão Dilma Rousseff. A sociedade não deseja ver repetidas práticas desastrosas como o inchaço da máquina pública, o financiamento a regimes ditatoriais de esquerda e relações promíscuas com o Congresso e partidos aliados, como as que desembocaram nos escândalos de corrupção desvendados pela Lava-Jato.

Lula é reconhecido por sua habilidade política na negociação e no convencimento. Mas, agora, deve usar esta habilidade para construir uma aliança capaz de dar governabilidade sustentada em pilares republicanos. O Congresso, nos últimos anos, ganhou mais poder em relação ao Executivo. Não há espaço para ilusão. Boa parte do parlamento, especialmente no centrão, tem afeição à órbita do poder, mas sabe cobrar o seu preço. A ver, portanto, como construir uma coalizão sem o toma lá da cá.

O petista fez uma campanha em que reforçou a lembrança da ascensão social experimentada em seu governo. O principal mote foi a esperança, materializada na redução da desigualdade e na recuperação do poder aquisitivo. O grau de expectativa a cercar a volta de Lula ao poder é elevadíssimo. Deve o presidente eleito mostrar que aprendeu com os erros do passado para a crença em dias melhores depositada nas urnas não se transformar em frustração.

São necessários gestos e palavras direcionados a superar a divisão destrutiva da sociedade. A mesma compreensão deve ter Bolsonaro, acatando o resultado e permitindo uma transição civilizada. Divergências políticas são próprias da democracia, mas a fissura hoje existente ultrapassa em muito os níveis aceitáveis e se torna uma trava ao desenvolvimento. Cabe a Lula, a seu vice Geraldo Alckmin e a todos os que o apoiaram no segundo turno trabalhar pelo desenvolvimento do país, com zelo nas finanças e sensibilidade social.

No Estado, Eduardo Leite (PSDB) fez história ao ser o primeiro governador reconduzido ao cargo. O feito inédito pode ser atribuído a uma preferência do eleitor pela continuidade de uma gestão que atuou com responsabilidade fiscal, fez reformas importantes, promoveu privatizações e, assim, teve êxito em recolocar os salários dos servidores em dia e ao menos recuperar uma parte da capacidade de investimento do Executivo. O adversário, Onyx Lorenzoni (PL), pecou em não apresentar propostas concretas para os gaúchos.

A situação financeira do Estado não tem a mesma gravidade de alguns anos atrás, mas permanece delicada. Leite terá a missão de continuar nesta caminhada de saneamento das contas, ao mesmo tempo que precisará enfrentar desafios relevantes, especialmente na área educacional, implementando as diretrizes do pacto pela educação para recuperar a qualidade do ensino público.

O Rio Grande do Sul e o Brasil, a despeito de suas complexidades, entraves estruturais e, mesmo em níveis diferentes, desigualdades sociais que precisam ser frontalmente atacadas, têm enorme potencial de conquistar um crescimento econômico robusto e sustentável que leve a um desenvolvimento mais equânime. O país amanhece com um novo presidente eleito e um governador gaúcho reconduzido ao cargo. Ontem, foram votados e, a partir de hoje, devem contar com um voto de confiança da sociedade para que, a partir de janeiro de 2023, possam cumprir os seus compromissos em busca de uma nação e um Estado mais prósperos e em harmonia.

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