quarta-feira, 19 de outubro de 2022


19 DE OUTUBRO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

UM DESAFIO QUE É OPORTUNIDADE

As principais preocupações externadas nos discursos de abertura da Sial Paris, mais importante feira de alimentos da Europa, foram relacionadas aos desafios para produzir volumes suficientes para atender às necessidades da população mundial nos próximos anos. Estima-se que, até 2050, o número de habitantes do planeta chegará a 10 bilhões. Hoje, são cerca de 7,9 bilhões. É de se esperar ainda que, neste intervalo de tempo, será possível diminuir significativamente o número de pessoas que passam fome.

As expectativas, portanto, apontam para um substantivo crescimento na demanda por comida. O presidente do evento, Nicolas Trentesaux, estimou que será necessário duplicar a produção global de alimentos, relatou a colunista Giane Guerra, que viajou à França para cobrir o evento a convite da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs). Não há dúvida de que esse cenário descortina uma enorme oportunidade para o Estado e para o país, devido ao grande potencial agropecuário aqui existente.

Mesmo que se discutam formas de diminuir o desperdício, mudança de hábitos e - especialmente nos países desenvolvidos - uma possível transição alimentar, não há como escapar da necessidade de elevar a disponibilidade dos alimentos básicos. O Brasil e o Rio Grande do Sul, como um dos líderes nacionais na área, terão nesse contexto um importante papel a desempenhar na produção agrícola e de proteína animal.

O tema ganhou mais urgência devido ao conflito no Leste Europeu. A Ucrânia, conhecida por suas terras férteis, é uma das maiores fornecedoras de grãos do mundo. A guerra dificultou a atividade agrícola, diminuindo a oferta, e o escoamento das safras. Ao mesmo tempo, elevou as incertezas quanto ao comércio de fertilizantes pela Rússia e nações vizinhas.

Cedo ou tarde, a paz será restabelecida, e a economia mundial voltará à normalidade. Assim, além de volume, qualidade, procedência e sustentabilidade voltarão a ser cada vez mais exigência de mercado, a partir da posição dos consumidores. Mesmo que ainda existam etapas a vencer, o próprio Parlamento Europeu aprovou em setembro proposta que proíbe a aquisição de commodities oriundas de áreas de desmatamento. Não é um problema para o Rio Grande do Sul, mas um desafio importante para outras regiões do país. O Brasil não precisa desflorestar para incrementar a produção de alimentos. Há a cada ano ganhos de produtividade e existem ainda dezenas de milhões de hectares de pastagens degradadas que podem ser recuperadas e utilizadas para a agricultura.

O Brasil e o Rio Grande do Sul têm condições privilegiadas para conciliar agropecuária com preservação ambiental. A incorporação dessa ideia só trará vantagens. Conservar regiões naturais intactas também significa a garantia de ter, por muito tempo, áreas onde são desenvolvidas atividades econômicas sadias e capazes de entregar alta produtividade. Assim, os ganhos financeiros se perenizam e podem ser potencializados com a melhora da imagem do país no Exterior. 

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