sábado, 22 de outubro de 2022


22 DE OUTUBRO DE 2022
FLÁVIO TAVARES

PARA ONDE IR?

A poucos dias do segundo turno eleitoral, o tema fundamental não aparece nas propostas dos candidatos a presidente ou governador. A preservação do meio ambiente é relegada a plano inferior ou não é mencionada. Não aparece sequer naquelas promessas mirabolantes da politicagem, como se bastasse dizê-las para que se concretizem como mágicas.

Nem como promessa vaga, porém, o tema fundamental do século desponta nos candidatos do segundo turno. No Rio Grande do Sul, os aspirantes a governador nem sequer fazem alusão à transformação das águas do Guaíba em pestilentas cloacas devido à eventual abertura de uma mina de carvão a céu aberto em terras alagadiças às margens do Rio Jacuí, próximas a Porto Alegre. O processo está arquivado, mas poderá ser reaberto no futuro para dar lugar à poluidora mina.

Querem que o Guaíba se transforme em fonte de imundície ainda maior do que o Arroio Dilúvio na Capital, como este jornal mostrou dias atrás?

Leite e Onyx ignoram o assunto, como se água não fosse essencial à vida em si. O meio ambiente, como um todo, não aparece sequer como promessa vaga nos debates dos candidatos ao Piratini. Pensarão eles que o tema fundamental do século não tem qualquer ligação com as atribuições de governar?

Na campanha presidencial, a situação se repete. Nos debates pela TV, Lula da Silva tocou no tema apenas de raspão, enquanto Bolsonaro o ignorou. Tal qual no debate dos aspirantes a governador, o dos presidenciáveis foi uma troca de insultos e de acusações de "mentiroso".

Na única vez em que o debate poderia apontar planos de ensino, Bolsonaro cometeu um absurdo só comparável a ter dito que a vacina da covid provocava aids. Citou o Graphogame (um passatempo eletrônico) como forma de resolver o analfabetismo gerado pela pandemia, e afirmou que o aplicativo finlandês alfabetiza pelo celular: "No tempo do Lula, a garotada se alfabetizava em três anos, e agora levará seis meses", disse ele.

O próprio Ministério da Educação lembra, porém, que o aplicativo é só "um apoio" que não alfabetiza por si próprio.

A atual disputa política virou uma soma de invencionices absurdas, em que até Satanás apareceu. Jamais fora assim. Votar corre o risco de não ser mais um ato de civismo e de civilidade para virar só imposição da lei.

FLÁVIO TAVARES

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