Mulheres, medo, sororidade e independência
Jaime Cimenti
Grandes escritores, como Rubem Fonseca, geralmente falam de pessoas e de cenários de sua época e biografam as razões e as emoções do período. Não é fácil escrever sobre o presente, quase sempre se prefere falar do passado. E a maior parte dos autores, especialmente os prosadores, não usam muitos diálogos.
Predadores (L&PM Editores, 160 páginas, R$ 46,90), terceiro livro e segundo romance da professora de escrita criativa, escritora e atriz Clara Corleone, mostra que a autora não tem medo de falar do presente e é hábil no uso de diálogos, além de retratar bem personagens, situações e cenários dos nossos atribulados dias.
Clara publicou o livro de crônicas O homem infelizmente tem que acabar (Zouk, 2019, Prêmio Minuano de Literatura-IEL) e o romance Porque era ela, porque era eu (L&PM, 2021, Prêmio Jacarandá, categoria autor revelação e vai conquistando seu lugar na literatura brasileira atual.
Predadores traz a protagonista Clara, escritora, alter ego da autora, que é branca, de classe média alta, formada em curso superior, nascida em família estruturada e amorosa que apóia sua carreira artística. Clara tem a proteção de diversas camadas sociais e, do alto de seus privilégios, junto com as amigas, curte ao máximo do que lhes é permitido para jovens urbanas e feministas inveteradas.
Clara e amigas dão duro na carreira, amam a boemia e usufruem seus corpos como bem entendem. Mas aí aparece um maníaco na cidade, espalhando horror ao atacar jovens desamparadas jogando ácido em seus rostos.
Em meio à amizade e à sororidade as amigas vão descobrindo a vida adulta, os medos e as pequenas violências do cotidiano de um mundo que ainda está encharcado de machismo.
Será que elas têm consciência de coisas das quais nunca estarão a salvo? Será que elas um dia deixarão de sentir o medo ancestral que as mulheres sentem por quase toda a vida? Clara retrata bem nossas mulheres, suas amizades e as relações com os homens e as mazelas do planeta.
Lançamentos
A Imagem Nômade: A Tapeçaria das Índias e o Brasil do Século XVII (Edipucrs, 372 páginas, R$ 144,90), da professora-doutora gaúcha Claudia P. Damiani, aborda, através da Tapeçaria das Índias, a visualidade proveniente do olhar europeu sobre uma parte do mundo além de suas fronteiras, especialmente na ocupação holandesa no Brasil.
Jurema Finamour - A jornalista silenciada (Libretos, 300 páginas, R$ 55,00), da consagrada jornalista, professora e escritora Christa Berger, revela o que apaga a história de uma escritora, repórter engajada e inteligente, próxima da elite brasileira dos anos 1950-60 e o porquê do silêncio e do esquecimento de uma mulher de vanguarda.
Uma escada de areia até o céu (Editora do Brasil, 152 páginas, R$ 68,80), do premiado poeta, compositor e escritor Dilan Camargo, traz contos sobre jovens ao longo da vida. O amanhã, o hoje e o ontem são as três partes da obra que trata de tempo, vida, familia, sonho etc com muita sensibilidade.
O dia do ovo
Dia 14 deste mês comemorou-se mais um Dia Mundial do Ovo, data criada pelo Intenational Egg Commission, órgão sediado no Reino Unido. No Brasil o Instituto Ovos Brasil está celebrando a data desde o início do mês. Se o ovo veio primeiro ou a galinha é discussão milenar que hoje está resolvida: a primeira galinha do mundo nasceu de um ovo. O ovo é pai e mãe da galinha.
Quando eu era adolescente, quartorze ou quinze anos, um famoso médico alergista de Porto Alegre me pediu exames e disse, com ar grave: não coma ovo, que te faz mal, provoca alergias e outros problemas. Durante uns vinte ou trinta anos segui, a duras penas, o duro conselho. Eu era um largarto, gostava de comer até três ovos por dia. Foi complicado.
Uns trinta anos depois consultei um alergista, o sobrinho do médico que tinha ido décadas antes. Disse para ele que evitava comer ovos por conselho do tio dele. Ele me olhou e candidamente disse: "esquece a opinião do meu pai. Pode comer ovo." Ai só me restou dizer: agora que eu fico sabendo isso. Obrigado!
Nos anos 1970 a influente Associação Americana do Coração relacionou o consumo do ovo com aumento de colesterol, mas já na década seguinte houve revisão científica do tema e só permanecem algumas dúvidas sobre ligação do ovo com doenças cardiovasculares.
O ovo é bom, tem proteina, ferro, cálcio e zinco, design, forma e conteúdo fantásticos, ainda é relativamente barato e é o alimento mais completo depois do leite materno. O ovo é a proteína de maior valor biológico que existe, por apresentar muitos dos nutrientes que o nosso organismo precisa. Pesquisa da revista Heart disse que comer um ovo por dia reduz 26% os riscos de hemorragias cerebrais, 28% de morte por derrame e 18% de chances de morte por doenças cardiovasculares e menor risco de doença arterial coronariana.
Ovo contribui para aumentar a massa muscular, ajuda a memória e a concentração, auxilia na perda de peso, melhora o sistema imunológico, ajuda a reduzir o colesterol ruim e aumentar o colesterol bom, combate a anemia , previne o envelhecimento precoce e mantem a saúde dos ossos e dos dentes.
Viva o ovo! O ovo já foi inspiração para tela de Tarsila de Amaral em 1928, poema de João Cabral de Melo Neto, poema concretista de Fábio Bahia e o famoso conto de Clarice Lispector, um dos seus preferidos. No conto a frase: ao ovo dedico a nação chinesa.
Pão com ovo é ótimo e, se acrescentar vegetais, aí está completa uma refeição fit. Ovo pode ser feito só com água quente, comido com casca ou sem casca, pode ser cozido no microondas ou frito. No omelete, ovos podem estar desacompanhados ou com cogumelos, queijo, bacon, presunto, vegetais e outros ingredientes.
A propósito...
Gemada, licor, bolo, pudim, bacalhau, deliciosos doces portugueses, ambrosia, quindim: o ovo é democrático e aceita estar sozinho ou bem acompanhado. O ovo aceita simplicidade e receitas sofisticadas, estar em mesas de ricos e pobres e mata a fome de muitos, em todo o mundo, especialmente na África. O ovo é um herói mundial. No Brasil o consumo de ovos aumentou tremendamente.
A produção está próxima de 60 bilhões de unidades por ano. Em 2020 o brasileiro comeu 251 unidades por ano e, em 2022, foram 257 unidades por habitante. Em anos o consumo de ovos cresceu 69% no Brasil. Economia, tempo e versatilidade e praticidade são as causas. No Japão, México, Paraguai e China o consumo de ovos chega a 300 unidades per capita. Viva o ovo! O ovo vive!
Jaime Cimenti
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