quinta-feira, 20 de outubro de 2022


Bolo para as eleições

Estava eu aqui, após um exaustivo dia de trabalho, daqueles em que, quando damos por encerrado, nosso cérebro fica reduzido a uma "rave" de neurônios. E é justamente neste lapso de tempo que separa o final do trabalho e a difícil decisão de que realmente chega, e está na hora de tomar um banho e partir para a árdua tarefa do ócio, que disparam pensamentos que variam do absurdo ao lúcido em uma tal velocidade que já não conseguimos distinguir o que é crível do que é incrível.

Foi exatamente aí que me ocorreu que poderia fazer um bolo, no próximo dia 30, para alegrar à espera das apurações das eleições, a ratificação perene da democracia. Sim, porque, em algum momento da minha vida, fui para a internet e pesquisei exaustivamente receitas de bolo, até me tornar um razoável "boleiro", apesar de, por decisão própria, ter me transformado muito mais em um veículo de proporcionar este tipo de gostosura do que em consumi-la.

Pensei que com apenas três ovos, as medidas necessárias de farinha de trigo, açúcar, fermento (devidamente peneirados), óleo e suco de laranja, tudo colocado com carinho em uma vasilha e misturado "no muque" com um bom fuet de metal e depois espalhado em uma forma amanteigada e enfarinhada, só restaria levar ao forno pré-aquecido a 180 graus, por 25 ou 30 minutos, com uma margem de erro de cinco ou 10 minutos para mais, que meu domingo de eleições estaria resolvido. Ledo engano. Acontece que, do jeito que as coisas vão, com a intolerância nos desgraçando, nada pode se prever, apenas torcer - e por que não sussurrar uma brachá (uma espécie de oração em hebraico) para que as mentes se iluminem para decidir o que é melhor para o Brasil?

Um simples bolo não será suficiente para me acalmar. Será preciso, também, que tenhamos discernimento para não contestar nosso candidato, como fazemos pelo nosso time em um campo de futebol. Que não deixemos nosso ódio perdurar, exatamente quando mais precisamos de nossa lucidez. Que não acreditemos na notícia que veio pelo grupo de WhatsApp da família e que seu primo jura que é verdade porque foi o primo do amigo do tio do cachorro do vizinho da professora do amigo íntimo dele que estava presente. Que pensemos na sofrida população brasileira e que tenhamos claro nosso importante papel de parar com essa história de levarmos um sete a um por semana.

Tomara que o meu "elections cake" fique gostoso. Mesmo assim, para quem não aprecia um bom bolo de laranja, sempre haverá na despensa um pão dormido e uma lata de leite condensado. A decisão é só nossa: FB, ou seja, Fiz Bolo.

ZÉ VICTOR CASTIEL 

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