29 DE OUTUBRO DE 2022
MARTHA MEDEIROS
Fim de uma etapa
Iniciei carreira como colunista de jornal em 1994, no finalzinho do governo Itamar Franco. Meu texto de estreia denunciava uma tendência retrô: a de que casar virgem estaria "voltando à moda". O segundo texto foi sobre mulheres que tomavam a iniciativa de chamar para sair. O terceiro, sobre o casamento não ser mais o único objetivo de nossas vidas. Virou um nicho: relacionamentos. Ciúmes, erotismo, religião, rock´n´roll, cinema, topless, homossexualidade, aventuras cotidianas. Escrevia sobre tudo, pois tudo envolve a relação entre as pessoas. Incluindo a política.
Sobre o governo FHC, palpitei três ou quatro vezes - em oito anos. No governo Lula, um pouco mais. Eram opiniões avulsas, não representavam meu trabalho como um todo. Isso até 2016, quando estarreci ao ver um deputado homenagear um torturador dentro do Congresso Nacional - me senti insultada. Não gosto de política e nunca demonizei ou santifiquei alguém: por mim, continuaria dando pitacos vez que outra, mas àquela altura eu tinha uma reputação de credibilidade e seria covardia não expor a minha indignação com o Brasil desaforado e perigoso que saía do armário. Passei a escrever, mais do que de costume, sobre os valores em que acredito, criticando quem ameaçava abertamente a democracia. Não estava em defesa específica de ninguém e de nada que não fosse a civilidade. Fiz o que achei que devia e aqui, por ora, encerro essa etapa.
Até que me sinta novamente horrorizada, não pretendo insistir neste assunto, mude o inquilino do Planalto ou não. Foi um processo doloroso e espero que tenhamos aprendido com ele. De minha parte, me sinto mais madura e mais íntegra como profissional. Arrisquei uma situação confortável para dar a cara à tapa - e me estapearam, mas não tanto quanto apanharam diversos outros colegas, a quem me solidarizo. Não foi fácil atravessar essa tormenta. Tentamos informar, conscientizar e combater fake news, mas não somos donos da verdade. A população é imensa e soberana.
É dela que virá o veredito.
Não virarei as costas para a política - a desinformação é uma arma letal que a gente aponta para nós mesmos - mas, daqui pra frente, voltarei a compartilhar reflexões sobre filmes, livros, dores, amores, descobertas, viagens, confidências. O universo entre quatro paredes, enquanto a vida corre lá fora. Sentimentos solares e o breu de cada um. As crônicas continuarão sendo um espelho do que sinto, vejo, temo e penso, mantendo a leveza da qual nunca me apartei. De resto, não são os eleitores que ganham ou perdem uma eleição, nem mesmo os candidatos. É o país. Sua história continuará sendo escrita. Que não venham páginas muito duras.
No próximo sábado (5), às 18h, autografarei Um Lugar Na Janela 3 na Feira do Livro de Porto Alegre, desta vez com direito a selfie e abraço, finalmente. Apareça.
2 comentários:
cada vez mais esquerda .... não é ruim nem bom massssss parece que só um lado é responsavem por fake só um lado é satanico e o outro santo .. outa coisa houve uma guerra cada lado acha que o seu é o justo o certo umm ganha outro perde ,,, os ganhadores fizeram miseria masssssss são democraticos defendem o alardeado estado de direito cao martha
ciao martha
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