Por que Caminhar?
Para economizar energia ao percorrer distâncias maiores, os seres humanos passaram a andar sobre os dois pés, com as pernas esticadas e a coluna ereta. O que, hoje, soa óbvio, não era tão lógico assim há cerca de 3,6 milhões de anos, época na qual, segundo estudos, apareceram os primeiros bípedes que se tem conhecimento.
Graças a essa evolução, os seres humanos passaram a poupar muita energia. Para se ter uma ideia, esse fenômeno rendeu um gasto 50% menor quando comparado a outros animais de tamanho semelhante.
- A caminhada é um traço comportamental fundamental no processo evolutivo. É altamente funcional, pois, durante milhões de anos, nosso organismo se adaptou para realizar esse tipo de movimento. Simplificando: é algo que somos preparados evolutivamente para fazer, por isso é tão prazeroso - diz Leonardo Tartaruga, professor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Esefid/UFRGS).
Nesse trajeto de milhões de anos, a caminhada também se desenvolveu: foi deixando para trás o aspecto exclusivo de sobrevivência e, mais recentemente, ganhou ares de exercício físico. A partir dessa nova percepção, cresceu o interesse em investigar a atividade e seus benefícios para a saúde, resultando em inúmeros estudos.
Um dos mais recentes, publicado no começo de setembro, associou a quantidade de passos por dia à mortalidade. Mas esse não é o único. Pelas bibliotecas virtuais, há uma infinidade de pesquisas que analisam os mais diversos pontos dessa atividade básica, simples e essencial na existência humana.
O que melhora?
Acessível e democrática, a caminhada oferece diversos benefícios para a saúde física: melhora o transporte de oxigênio pelo corpo, a força do coração e o fluxo sanguíneo cerebral. Também ajuda na osteoporose, reduz a chance de trombose venosa profunda, o risco de infarto, de acidente vascular cerebral, controla a pressão e melhora o diabetes, enumera o médico Glauber Signorini, diretor-técnico do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul.
- O corpo humano não foi feito para ficar parado. O movimento faz a máquina ser funcionante. É como um carro que não é ligado: começam os problemas - compara Signorini.
De lambuja, o exercício dá uma força para a saúde mental, diminuindo a ansiedade, a depressão e melhorando a autoimagem.
Para além de tudo isso, a caminhada tem impacto social importante na vida de seus praticantes. À frente de diversos projetos da Esefid, Tartaruga observa que grandes repercussões em grupos de maior vulnerabilidade, como em indivíduos com Parkinson, por exemplo:
- O Parkinson é uma doença degenerativa que aparece em pessoas de meia idade que já têm a vida estabelecida. Então, começa esse desligamento com as relações sociais. Aí, vem o exercício como uma coisa incrível. Os familiares vêm nos agradecer. Temos alunos que voltaram a patinar, a dirigir e a caminhar para cumprir distâncias mínimas que impactam socialmente.
Quantos passos devo dar?
Bastante popular, a recomendação de dar 10 mil passos por dia não é uma diretriz científica. Conforme pesquisadores, a ideia de quantificar os passos diários surgiu na década de 1960, quando uma empresa japonesa lançou um pedômetro batizado justamente de manpo-kei, que significa "medidor de 10 mil passos".
Agora, uma pesquisa realizada pela University of Massachusetts, nos Estados Unidos, avaliou se o número de passos diário e a intensidade deles tinha associação com o risco de morte prematura em homens e mulheres de meia idade. Publicado no The Journal of the American Medical Association, o trabalho acompanhou 2.110 adultos por 10 anos e conseguiu evidenciar que aqueles que deram ao menos 7 mil passos por dia tiveram risco de mortalidade 50% a 70% menor na comparação com aqueles que caminharam menos. A intensidade, por sua vez, não teve efeito negativo e nem positivo.
Apesar dessa medida, o médico do exercício e do esporte do Hospital Mãe de Deus, Felix Albuquerque Drummond, explica que andar entre 5 mil e 7 mil já traria vantagens.
- Isso varia conforme a idade, a condição de saúde da pessoa, se tem doença associada, se é obeso. O fundamental é que devam se mexer dia sim e dia não, ou diariamente, se estiver acostumada. Mas podemos dizer que, de 4 mil a 8 mil passos por dia, é uma recomendação razoável.
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