terça-feira, 10 de março de 2009



10 de março de 2009
N° 15903 - CLÁUDIO MORENO


Escolher é ganhar

Muito antes de Páris nascer, um oráculo inesperado anunciou que ele traria morte e destruição para todos os troianos; por isso, tentando salvar seu povo dessa terrível profecia, o rei mandou abandonar o recém-nascido num lugar selvagem, contando que a fome, a sede e os animais da noite fizessem o que ele não tinha coragem de fazer.

Como os oráculos, porém, nunca podem ser contornados, Agelau, o servo encarregado da missão, levou o bebê em segredo para sua cabana, onde o criou como um filho.

Ignorando sua verdadeira origem, o menino cresceu na rústica vida do monte, tornando-se um guardador de rebanhos como Agelau – e foi nessa humilde condição que recebeu a visita que iria mudar seu futuro e o de todo o seu povo.

Acompanhadas de Hermes, o mensageiro do Olimpo, surgiram à sua frente, vindas do azul infinito, três maravilhosas deusas – Atena, Hera e Afrodite – que disputavam entre si o título da beleza suprema.

“Tu serás o juiz”, disse Hermes, entregando a Páris o troféu, uma maçã de ouro maciço que trazia a inscrição “À mais bela”. Sabendo que seu veredito, fosse qual fosse, atrairia sobre ele o ódio mortal de duas inimigas poderosas, o jovem ainda esboçou uma tímida recusa, mas Hermes foi taxativo: “És tu quem vai decidir, porque esta é a vontade de Zeus!”.

Páris, então, percebendo que os deuses lhe negavam a opção de não escolher, passou a examinar as candidatas mais de perto; a beleza delas, porém, estava tão acima dos padrões humanos que ele ficou paralisado, sem condição de julgar.

Ao ver que o jovem hesitava, as deusas tentaram conquistá-lo com ofertas sedutoras: Hera prometeu que o faria reinar sobre todos os outros reis; Atena, que o tornaria o mais sábio dentre os sábios; Afrodite, por fim, que lhe daria o amor de Helena de Esparta, a mais bela das mortais. Páris, que era jovem e sensível, preferiu Helena a todo o resto.

Hoje sabemos que sua decisão teria trágicas consequências para ele, e que todo seu povo seria exterminado pelos exércitos da Grécia – mas isso não vem ao caso, pois, como qualquer ser humano que chega a uma encruzilhada, estava condenado a escolher, sem ter garantia alguma de estar no caminho certo.

Além disso, não deixou que a ideia de tudo aquilo que estava perdendo – o poder e a sabedoria prometidos por Hera e por Atena – paralisasse o braço que entregou a maçã a Afrodite.

Buridan, filosófo medieval francês, imaginou um asno que acabava morrendo de fome, imobilizado no meio do caminho entre o balde de aveia e o de cevada; Páris, que não era um asno, arcou com o custo de suas escolhas e foi viver ao lado de Helena.

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