OPINIÃO DA RBS
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A guerra é contra o Hamas, não contra os palestinos
O maior ataque já sofrido por Israel, perpetrado pelo grupo terrorista Hamas, deixa ainda mais distante qualquer perspectiva de solução negociada e pacífica para o Oriente Médio. A ação sem precedentes, deflagrada na data que marcou os 50 anos da Guerra do Yom Kippur, produziu um rastro de atrocidades com centenas de civis mortos e feridos, além de um grande número de israelenses feitos reféns e levados para a Faixa de Gaza, território controlado pelos fundamentalistas palestinos. Era evidente que os atentados com proporções e ousadia inéditas suscitariam uma resposta militar contundente de Israel, impelido pela prerrogativa da autodefesa. A consequência nefasta é a escalada imediata da violência na região, vitimando mais inocentes de lado a lado.
Israel declara-se em guerra. Deve ficar claro que o conflito é contra o Hamas, e não contra os palestinos. A barbárie é meio indefensável para qualquer finalidade e merece repúdio uníssono da civilização, assim como se observou após o atentado da Al Qaeda às Torres Gêmeas, em Nova York, em 2001.
O ponto crucial a ser ressaltado é que é equivocada qualquer tentativa de relativizar a agressão terrorista como se fosse um método justificável em nome da causa palestina. A criação de um Estado palestino é um anseio legítimo. Mas deve ser viabilizado por meio de negociações de lideranças comprometidas com um entendimento alicerçado na confiança mútua, capaz inclusive de gerar as concessões possíveis de parte a parte. Apenas dessa forma será factível construir uma paz duradoura, com a coexistência do Estado de Israel com um território autônomo palestino. Infelizmente a possibilidade de diálogo, neste momento, é improvável, tendo em vista também a posição enfraquecida da Autoridade Palestina.
O Hamas, por sua parte, prega a destruição de Israel. Nega o direito à sua existência. Não há como ser partícipe de qualquer tratativa produtiva, portanto. Ao optar pelo caminho da violência extrema, ao fim o grupo torna ainda mais pedregoso o percurso para futuras conversas diplomáticas que poderiam chegar a um bom termo. O terrorismo que sequestra e gera mortes de civis, entre eles crianças e idosos, também alimenta radicalismos no lado israelense, onde hoje está no poder o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, à frente de uma coalizão considerada a mais à direita da história do país.
Mas não será pela brutalidade que será possível, por exemplo, reverter a ocupação de assentamentos israelenses na Cisjordânia, uma expansão condenada pela Organização das Nações Unidas (ONU). O terrorismo patrocinado pelo Hamas, é fácil concluir, prejudica a causa palestina - que não deve ser confundida com movimentos extremistas - e tende a causar ainda mais sofrimento para a população da Faixa de Gaza. Os riscos crescem com a possibilidade de o conflito se agravar, com uma nova frente de ataque pelo norte do território israelense, desencadeada pelo Hezbollah, baseado no Líbano.
Quis o destino que esta hora sombria fosse desencadeada no momento em que o Brasil assume a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU. O país, mesmo sem citar nominalmente o Hamas, condenou a ofensiva terrorista. À frente do órgão da mais importante organização multilateral do mundo, terá o desafio histórico de tentar contribuir para a busca de uma futura solução negociada para o fim das hostilidades.
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