28 DE MARÇO DE 2020
POLÍTICA +
Sinais contraditórios que vêm do Planalto
Sem a presença do ministro da Economia, Paulo Guedes, o governo do presidente Jair Bolsonaro anunciou um pacote de medidas que poderiam acalmar os ânimos dos empresários que pregam a volta às atividades a qualquer custo, não fosse o sinal contrário que vem do próprio Palácio do Planalto. No mesmo dia em que Bolsonaro anunciou o esperado socorro emergencial, viralizou nas redes sociais um vídeo com a assinatura da Secretaria de Comunicação reforçando a mensagem de que "o Brasil não pode parar".
O tom é o mesmo da campanha lançada em 26 de fevereiro pelos empresários de Milão e endossada pelo prefeito Giuseppe Sala, que agora se arrepende do que fez. "Milão não para", dizia o slogan. Um mês depois, a Itália inteira está parada e, na sexta-feira, bateu novo recorde de mortes em 24 horas: 919. Desde fevereiro, são 9.134 mortos, a maioria na Lombardia.
Coube aos presidentes do Banco Central, Roberto Campos Neto, da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, e do BNDES, Gustavo Montezano, anunciar o pacote de R$ 40 bilhões para socorrer empresas e trabalhadores nos próximos dois meses. É o reconhecimento da área econômica de que abril e maio serão meses críticos, como já alertou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. O que está fora de sintonia é o aval do Planalto à pressão pela retomada da atividade econômica, que significa dar fim ao isolamento recomendado pelas autoridades sanitárias antes que se tenha conseguido achatar a curva dos casos de contaminação.
Ainda que sejam tímidas, as medidas de proteção social anunciadas pelo governo trazem alguma tranquilidade aos milhões de brasileiros que ficarão sem renda enquanto durar o isolamento e às pequenas e médias empresas que não têm como bancar a folha de pagamentos. O empréstimo subsidiado para pagamento dos salários até o limite de dois mínimos está condicionado ao compromisso de não demitir. Para evitar que seja desviado para outras finalidades, o dinheiro cairá diretamente na conta do trabalhador.
O Brasil não tem dinheiro para despejar na economia como os Estados Unidos estão fazendo, mas terá de deixar de lado o desejado ajuste fiscal para socorrer os desassistidos nesse período de calamidade. Passada a emergência, o mundo terá de se reinventar. Agora, a prioridade é salvar vidas e evitar o colapso no sistema de saúde.
ALIÁS
Ao questionar o número de mortos, insinuando que os governadores estariam inflando os dados para fazer uso político, Jair Bolsonaro dá razão ao jurista Miguel Reale Júnior, que sugeriu exame de sanidade mental.
ROSANE DE OLIVEIRA
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