28 DE MARÇO DE 2020
RODRIGO CONSTANTINO
Saúde e economia
Quando vamos ao médico, normalmente ele nos dá inúmeras recomendações para nossa saúde que restringiriam bastante aquilo que julgamos vantajoso para nossa qualidade de vida.
É normal: o médico tem apenas um foco, nossa saúde, e sempre vai pecar por excesso de cautela e prudência. Já nós, pacientes, temos outros objetivos em mente para além de nossa saúde “perfeita”, e aceitamos correr certos riscos para viver melhor (não necessariamente mais).
O coronavírus traz desafios enormes para vários países e impõe dilemas terríveis. Não dá para salvar todo mundo, e existem grupos de risco, idosos com doenças prévias, que correm mais perigo. Por outro lado, a economia não pode parar, e é falsa e sensacionalista a dicotomia entre “vidas ou lucro”.
Estamos falando de gente que, sem trabalhar, pode passar fome, ter inúmeras doenças causadas pelo estresse ou má alimentação, e até morrer.
O médico vai focar no primeiro aspecto: salvar aquelas vidas diretamente ameaçadas. Mas com frequência vai ignorar outros campos e os efeitos a médio prazo de suas decisões emergenciais para conter a pandemia. O ministro Mandetta, que tem se mostrado mais um quadro técnico e preparado deste governo, representa bem essa postura. Já Bolsonaro está de olho na floresta toda, não só nessa árvore.
É verdade que a postura do presidente em nada ajudou. Ele errou feio ao desmerecer o risco do vírus e chamar de “gripezinha” aquilo que tem colocado o mundo de joelhos e os sistemas de saúde em colapso. Mas ele está certo em chamar a atenção para os terríveis impactos econômicos das medidas drásticas de quarentena. O povo vai sofrer, e muito. Há trabalhadores informais sem qualquer reserva que precisam produzir para viver.
As divergências entre ministro e presidente, portanto, são naturais, e vale lembrar que existem divergências entre os especialistas também. Quem cobra de Mandetta uma renúncia ou aposta em sua demissão está torcendo contra o país, e o faz por oportunismo. Cantam a queda de Paulo Guedes e Sergio Moro desde o começo do governo, por supostas intrigas com o chefe. Mas eles seguem em seus postos. Ninguém precisa concordar o tempo todo num mesmo governo. Ao menos não num governo democrático...
RODRIGO CONSTANTINO
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