19 DE MARÇO DE 2020
INFORME ESPECIAL
Quando encher o carrinho é uma obrigação
Estamos todos convocados a ficar em casa nos próximos dias. Com isso, consumiremos mais. Até a semana passada, eu costumava almoçar no refeitório da RBS. Muitas vezes, tomava café fora de casa e jantava em eventos ou com amigos. Não só eu, mas minha mulher e minhas duas filhas também. Agora, praticamente confinados, mais do que dobramos o nosso consumo de comida, água, leite, papel higiênico e produtos de limpeza. São milhões de pessoas no Brasil que passam pelo mesmo. Então, pensemos duas vezes antes de criticar alguém com o carrinho cheio no supermercado. Em boa parte dos casos, comprar a mais - sempre sem exageros - é um gesto correto de solidariedade, porque significa que aquela família vai mesmo se isolar e, com isso, fazer a sua parte para que o coronavírus não se alastre.
É fundamental separar as coisas nesses tempos de julgamentos sumários e implacáveis. Há sim os egoístas que querem levar vantagem ou os que ficam angustiados demais. Esses precisam de ajuda para repensar seu comportamento. Enquanto isso, pare de olhar automaticamente de cara feia para quem sai carregado do súper. Na maioria dos casos, trata-se de um comportamento correto, cidadão e responsável. Ainda mais diante da garantia de que não teremos problemas de abastecimento.
DUAS PERGUNTAS
Para Alberto Reinaldo Reppold Filho, coordenador do Centro de Estudos Olímpicos e Paraolímpicos da ESEFID-UFRGS
A Olimpíada de Tóquio está marcada para começar em 24 de julho. Com o coronavírus, qual deveria ser a resposta do Comitê Olímpico Internacional?
Me parece quase absurdo manter os jogos. É preciso cancelar. Primeiro, porque a quantidade de pessoas deslocadas é gigante. Vão aglomerar milhares em uma cidade por seis semanas. E não somente atletas, mas também público, imprensa, dirigentes, treinadores e voluntários. Se eu vivesse em Tóquio, estaria apavorado, pois os jogos colocariam uma pressão enorme sobre um sistema de saúde já pressionado. Os turistas também se deslocariam pelo país, afetando o sistema de transportes. É preciso lembrar que alguns países recém começaram a ter casos e terão picos em maio. Já há dificuldades para treinar os atletas e uma série de competições preparatórias foram canceladas.
Qual deve ser o futuro dos jogos previstos para 2020?
A competição já foi cancelada anteriormente em consequência das duas guerras, mas não há registro de adiamento. Uma opção seria a transferência para outro país, impraticável hoje, diante de uma doença global. Poderia ser o cancelamento total, mas não acredito. Outro cenário seria portões fechados, mas olimpíada só com atletas não tem sentido. Frente à quantidade de investimentos feitos por patrocinadores, venda de ingressos, o prejuízo seria muito grande. Os valores da filosofia olímpica seriam afetados, já que os jogos olímpicos são eventos de congregação dos povos, em torno da ideia de paz, excelência e internacionalização. A única alternativa possível é adiar o evento, mas não para este ano, para o mesmo mesmo período de 2021.
TULIO MILMAN
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