21 DE MARÇO DE 2020
CORONAVÍRUS
Em nome do dever, distância protege familiares e amigos
Não é por trabalharem em unidades de saúde que médicos, enfermeiros, seguranças, auxiliares de limpeza, atendentes, entre outras funções, temem menos o coronavírus. Ninguém está imune à doença. Muitos profissionais relatam que o medo não é exatamente de ser infectado, mas de que a sua contaminação represente risco a muitas pessoas que estão no seu convívio ou ao seu redor, seja em casa, nas relações de amizade, nos hospitais ou postos.
- Nas unidades de saúde, precisaríamos ter um fluxo menor de pessoas, para reduzir a possibilidade de contágio nos pacientes, para diminuir o risco de nos contaminarmos e, com isso, também afetarmos nossas famílias - explica Marcelo Matias, presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers).
A linha de frente da saúde é um vetor em potencial apresentando ou não os sinais compatíveis com a covid-19, já que podem ter contraído a doença, estarem assintomáticos e, ainda assim, podendo contaminar outras pessoas.
- Minha rotina mudou totalmente. Tenho que levar minha comida e água embaladas. Pegar transporte por aplicativo, sendo que antes ia de trem. Meus pais moravam comigo, mas, como são grupo de risco, levamos para a casa do meu irmão, onde tem mais espaço. Fiquei dias dormindo na casa de amigos médicos para não voltar para o mesmo ambiente da minha família. Agora, estou sozinho - relata médico de Canoas que prefere não ser identificado.
Emocional
O impacto nesses profissionais é também psicológico. Muitos funcionários de hospitais, mesmo sabendo da recomendação de que máscaras, por exemplo, só devem ser utilizadas por quem lida diretamente no atendimento a pacientes com suspeita de coronavírus, pedem que o equipamento seja fornecido a eles - o que, se os faz se sentirem mais protegidos, também leva à percepção dos pacientes de que essa é uma das maneiras mais seguras de se proteger.
- Em todos os dias que fizemos reuniões tem gente preocupada, querendo saber se as salas em que estiveram estavam higienizadas, se estavam utilizando EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) corretamente - relata Fábio Dantas, do HCPA.
O médico diz que é nítido, nas conversas com colegas, que muitos estão ansiosos, preocupados, alguns com convicção de que estão com coronavírus. Mas o grande temor é por seus familiares e pacientes: os profissionais se veem angustiados porque estão trabalhando com a saúde da população em meio à pandemia, ficam aflitos com a possibilidade de ter passado a doença de um paciente para outro.
- Apesar de sermos profissionais de saúde, somos, antes de tudo, seres humanos - diz Fábio.
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